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Desinquietem-se! Dia 8 de Março – Dia Internacional da Mulher

Em 1911, a dois meses do nascimento da nossa Escola, um terrível incêndio na fábrica de tecidos em Nova Iorque “Triangle Shirtwaist”, dizimou 23 homens e 123 mulheres que aí trabalhavam. A rapidez e a voracidade das chamas, aliada à prática de tranca das portas das instalações para inibir as paragens de trabalho na jornada laboral, transformou numa imensa e horrífica fogueira o edifício, onde aquelas trabalhadoras ganhavam o seu pão. Trabalhavam como os homens, mas ganhavam significativamente menos. As consciências não podiam permanecer inativas.

A 8 de Março de 1917, uma jornada de luta em São Petersburgo trouxe para a rua, em manifestação, uma multidão de mulheres russas que exigiam pão, melhores condições de vida e a saída da Rússia da I Guerra Mundial.

A luta das mulheres pela igualdade não é uma bandeira da esquerda ou da direita. É da humanidade. Em Portugal, os partidos de esquerda na 1ª república eram contra o direito de voto das mulheres porque temiam a sua manipulação pela igreja. A médica Beatriz Ângelo foi a primeira mulher a votar em Portugal depois de ter litigado e vencido em tribunal mostrando que tinha, à luz da lei, capacidade eleitoral. Seguiu-se a explícita e vergonhosa perda do direito de voto por parte das mulheres portuguesas com a aprovação, pelos revolucionários da época, do código eleitoral de 1913.

Hoje continuamos a celebrar o Dia Internacional da Mulher. Não celebramos o Dia Internacional do Homem. Isto já devia explicar a razão. Afinal as mulheres, e não só, ainda continuam a exigir, justificadamente, que as tratem como seres humanos sem que o seu género seja fator de discriminação nos locais onde é relevante, nomeadamente no acesso ao ensino, no acesso ao mercado de trabalho, no acesso à remuneração, no acesso aos postos de decisão, no acesso aos lugares de governo, no acesso à capacidade eleitoral ativa e passiva, no acesso ao lazer, no acesso a mostrarem a sua face, etc.

E o mais difícil de entender é como é que passados tantos anos desde o início desta luta, continuamos a ler estatísticas que nos demonstram que a desigualdade persiste. Pior, até vemos sociedades que regrediram no percurso do tratamento igualitário das mulheres.

E se pensam que esta realidade está longe de nós, enganam-se. Infelizmente, ainda hoje, o ISEG acolhe jovens mulheres estudantes que fogem de países onde o seu tratamento e acesso ao ensino é ultrajantemente negado, ou que desesperadamente tentam prolongar a sua ligação à Escola para evitar o repatriamento.

Eu sei que a luta contra a discriminação é feita com a discriminação. Temos de forçar o curso dos acontecimentos para acelerar o percurso da dignificação das mulheres ou dos outros géneros. E por isso, correndo o risco de ser acusado de discriminar uma parte dos meus colegas docentes, funcionários não docentes ou estudantes, e aproveitando a nova era digital, ofereço simbolicamente, a todas as mulheres do nosso universo ISEG, dois cravos imaginários: um branco e outro vermelho, as cores da nossa bandeira e das faculdades de economia e gestão. O vermelho, que nos recorda o sangue derramado pelas que lutaram pela justa igualdade de direitos, mas que nos alerta para a justa luta que continua a ter de ser travada por todos nesse caminho. O branco porque simboliza a paz, a luz que ilumina o caminho certo e que queremos curto, para essa igualdade, e a forma tranquila, mas firme, de a alcançarmos.

Por fim, cravos, porque são uma flor que significa, na maioria das culturas, boa sorte e a capacidade de atrair bênçãos e vitórias.

Que possamos usar este dia para nos alertar para as situações de desigualdade que persistem na nossa sociedade, não só na vertente do género feminino, mas alargando-a aos outros géneros ou a outras vertentes. Desinquietem-se!

João Duque,
Presidente

ISEG – Lisbon School of Economics & Management
Universidade de Lisboa