A deslocação da cooperação internacional para o desenvolvimento do Sahel

Após décadas de independência formal, os Estados do Sahel — Burkina Faso, Mali e Níger — permanecem entre os mais vulneráveis do mundo, com indicadores críticos em desenvolvimento, segurança e pobreza. Apesar de décadas de cooperação internacional com potências ocidentais, como França, União Europeia e Estados Unidos, os Estados do Sahel permanecem cativos das dinâmicas de dependência e estruturas neocoloniais, impedindo avanços substanciais no desenvolvimento destes países. A presente dissertação visa investigar a recente deslocação da cooperação internacional nesses países, marcada pela substituição de parceiros tradicionais por novos atores — Rússia, China e Turquia, principalmente — e analisa se essa transição representa uma ruptura com os padrões históricos de dependência. A investigação foi conduzida por meio de uma análise qualitativa fundamentada na Teoria do Sistema-Mundo de Immanuel Wallerstein. A análise permite concluir que, embora os novos parceiros ofereçam alternativas ao modelo ocidental, as estruturas subjacentes de dependência persistem, agora reconfiguradas em novas formas de clientelismo e exploração. Assim, a “ruptura” em curso revela-se mais simbólica do que substancial, sem transformação das lógicas periféricas do sistema-mundo. Conclui-se que, sem mudanças estruturais internas e uma redefinição radical das relações internacionais, a busca por soberania e desenvolvimento autônomo no Sahel continuará condicionada por dinâmicas sistêmicas de dominação.