Aluno: Guilherme Correia De Sousa Taxa
Resumo
A presente dissertação analisa criticamente as previsões de insustentabilidade dos
sistemas públicos de pensões, com especial foco no caso português, questionando a sua
validade e os fatores que sustentam um discurso frequentemente alarmista. Através da
revisão de três documentos-chave — o relatório do Banco Mundial (1994), o relatório da
OIT (2018) e o Livro Verde para a Sustentabilidade do Sistema Previdencial (2024) —
procura-se desconstruir linhas de argumentação que associam, de forma determinista, o
envelhecimento demográfico, a precariedade laboral e a pressão orçamental à falência
inevitável dos sistemas de repartição.
Três questões orientam esta investigação: (1) Em que medida as previsões de
insustentabilidade refletem a estrutura real do sistema português? (2) Qual a validade dos
fatores frequentemente apontados como motores dessa insustentabilidade? (3) Quais as
vantagens e desvantagens da capitalização face ao modelo de repartição (PAYG)? A
análise demonstra que muitas das projeções assentam em pressupostos frágeis, ignorando
a resiliência do sistema português, apoiado pelo FEFSS, e a capacidade de incorporar
reformas paramétricas que reforcem a sua sustentabilidade. Embora o envelhecimento
demográfico constitua um desafio relevante para a sustentabilidade dos sistemas públicos
de pensões, este pode ser mitigado com políticas ativas e reformas adequadas que ajustem
parâmetros do sistema. Por outro lado, os sistemas de capitalização apresentam limitações
estruturais próprias, como baixa cobertura, maior desigualdade e maior exposição a riscos
financeiros, que diferem dos desafios enfrentados pelo modelo PAYG.
Conclui-se que a insustentabilidade não é inevitável, mas sim contingente às
opções políticas adotadas. A sustentabilidade do sistema deve ser entendida numa
perspetiva multidimensional, isto é, financeira, social e política. O sistema português
demonstra, neste contexto, uma maior adaptabilidade e legitimidade, contrastando com a
instabilidade e reversões observadas em vários países que implementaram reformas
baseadas na capitalização.
Trabalho final de Mestrado