ACESSO AO CRÉDITO EM PORTUGAL E NA UNIÃO MONETÁRIA EUROPEIA: UMA PERSPETIVA DE GÉNERO

Este estudo procurou analisar o impacto do aumento das taxas de juro na desigualdade de género no acesso ao crédito em Portugal e na União Monetária Europeia (UME). Através de uma análise qualitativa, realizada através de entrevistas e a sua análise posterior através do método framework analysis, procurou: (1) Identificar as principais barreiras que as mulheres enfrentam no acesso ao crédito; (2) Compreender de que forma as taxas de juro influenciam esse acesso; e (3) Avaliar a existência de políticas nacionais ou europeias que abordem as desigualdades de género no contexto da política monetária. As entrevistas revelaram que as disparidades salariais entre homens e mulheres, assim como o seu papel no mercado de trabalho, são considerados os principais entraves no acesso ao crédito e que se podem traduzir na desigualdade de acesso ao crédito. As taxas de juro, ao influenciar negativamente o poder de compra das famílias e ao dificultar o acesso ao crédito, principalmente os sujeitos a taxa variável, exacerbam as dificuldades económicas e financeiras, que afetam particularmente os mais vulneráveis, neste caso as mulheres. No que diz respeito às políticas aplicadas, verifica-se um conhecimento limitado por parte dos entrevistados, sendo o microcrédito, em Portugal e na UME, a política mais mencionada e que se aplica diretamente ao objeto de estudo. Confirmou-se, portanto, a relação entre a política monetária e a desigualdade de género, relacionada com as desigualdades económicas e financeiras existentes entre homens e mulheres e com o impacto do aumento das taxas de juro na vida dos cidadãos, como também foi possível verificar em estudos anteriores. No entanto, existiu uma escassez de dados devido à amostra reduzida de entrevistas, aos perfis que na maioria refletem apenas a realidade portuguesa, e à ausência de dados quantitativos sobre o tema, o que limita a generalização de resultados.