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A POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO FEMINISTA: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE ALEMANHA E CANADÁ

Aluno: Danielle Giovanna Kerntopf


Resumo
As teorias feministas têm influenciado a governança do desenvolvimento há décadas. Nos últimos dez anos, diversos governos passaram a incorporar o termo feminismo para redefinir as suas agendas políticas internacionais. Em 2017, o Canadá foi pioneiro ao adotar uma estratégia feminista centrada no desenvolvimento internacional. Seguindo esta tendência, a Alemanha anunciou, em 2023, o lançamento da sua Política de Desenvolvimento Feminista. No entanto, a adoção da terminologia feminista não implica a implementação das mesmas abordagens. Assim, esta tese de mestrado propõe-se realizar uma análise comparativa das disposições normativas dos textos oficiais publicados pelos governos da Alemanha e do Canadá, buscando comparar as narrativas de ambas as políticas no que se refere às respetivas abordagens, fundamentos, estratégias, objetivos, metas e recursos alocados, além dos desafios globais que se propõem resolver. Metodologicamente, foi realizada uma análise qualitativa do corpus dos textos, comparando ambas as narrativas, foram ainda realizadas entrevistas com informantes privilegiados atualmente em missão diplomática na Embaixada da Alemanha no Brasil e na Embaixada do Canadá em Lisboa. Reconhecendo que o feminismo reflete a forma como os governos desejam apresentar as suas políticas no contexto internacional, esta pesquisa sublinha que, no plano retórico normativo, ambos os documentos seguem uma política de desenvolvimento feminista ancorada numa abordagem transformacional, ainda que com nuances. No caso da Alemanha, a abordagem apresenta-se como feminista e mais ampla, assumindo a intersecção com abordagens feministas pós-coloniais e antirracistas. Integra também como foco as pessoas LGBTQI+, pessoas com deficiência e povos indígenas; no caso do Canadá, verifica-se uma transferência da integralidade pela responsabilidade da implementação da política de desenvolvimento feminista por parte do Estado para o sector privado. Esta orientação é próxima do feminismo neoliberal. Ambas as políticas enfrentam o desafio de serem abordagens de desenvolvimento feministas efetivamente transformadoras na sua implementação e impacto. Para que o potencial de transformação se verifique, será ainda necessário que assegurem o afastamento de abordagens neoliberais e instrumentalistas sobre a igualdade de género.


Trabalho final de Mestrado