Aluno: Daniela Alexandra De Sousa Matias
Resumo
O presente estudo tem como propósito analisar, de forma aprofundada, como as práticas de Gestão de Recursos Humanos podem ser otimizadas para promover a retenção da Geração Z no setor das Tecnologias de Informação (TI), em contextos de home-office. A integração desta geração no mercado laboral coincide com um período de intensa transformação tecnológica e social, em que a digitalização dos processos e a adoção de modelos de trabalho flexíveis se tornaram centrais para a competitividade organizacional. A pandemia de COVID-19 acelerou a transição para o teletrabalho, expondo novas oportunidades e desafios, sobretudo para uma geração que valoriza a autonomia, a flexibilidade e a autenticidade nas relações de trabalho.
A Geração Z, composta por indivíduos nascidos aproximadamente entre 1995 e 2010, distingue-se pela elevada literacia digital, pela preferência por ambientes colaborativos e pela procura de alinhamento entre os seus valores pessoais e os valores das organizações onde trabalham. A literatura aponta que estes profissionais privilegiam organizações que lhes proporcionem oportunidades de desenvolvimento contínuo, reconhecimento pelo contributo individual e um propósito claro. No entanto, em ambientes remotos, a distância física pode dificultar a construção de vínculos sólidos, afetando o sentido de pertença e a motivação.
O objetivo geral deste estudo foi identificar práticas de gestão de talento que promovam a atração, motivação e retenção da Geração Z em empresas tecnológicas que operam em regime remoto. Foram definidos três objetivos específicos: compreender as perceções dos colaboradores da Geração Z e dos profissionais de RH; analisar o impacto dos estilos de liderança na motivação e retenção e propor recomendações práticas que possam ser aplicadas em contextos de home-office.
A metodologia foi desenvolvida através de um estudo qualitativo, baseado em entrevistas semiestruturadas e focus group. A amostra incluiu profissionais de RH e colaboradores da Geração Z com experiência em funções remotas no setor das TI, selecionados de acordo com critérios previamente definidos, como idade, funções e tempo de experiência profissional. Tanto as entrevistas como os focus group foram conduzidos através de plataformas digitais, utilizando guiões divididos em quatro eixos: motivação, liderança, engagement e retenção. As respostas foram transcritas integralmente e analisadas por meio de análise temática, seguindo um processo de codificação em várias etapas. Este processo incluiu a identificação de categorias iniciais, a agregação em temas principais e a verificação cruzada para assegurar consistência e fiabilidade dos resultados.
Os resultados apontam para três fatores críticos na retenção da Geração Z em contexto remoto: (1) reconhecimento individual, tanto formal como informal, manifestado através de feedback construtivo e celebração de conquistas; (2) coerência organizacional, ou seja, alinhamento entre o discurso e as práticas efetivas, particularmente nas áreas de flexibilidade, desenvolvimento e bem-estar e (3) oportunidades reais de progressão interna, sustentadas por percursos de carreira transparentes e programas de capacitação contínua.
No campo da liderança, verificou-se que estilos autênticos, baseados em comunicação clara e proximidade, mesmo que mediada por ferramentas digitais, potenciam significativamente o engagement e a motivação. Líderes que conhecem as necessidades individuais, oferecem apoio personalizado e demonstram coerência entre o que comunicam e o que praticam contribuem para fortalecer o compromisso organizacional. Em contrapartida, a ausência de acompanhamento próximo, de estímulos ou de perspetivas de evolução conduz a uma maior predisposição para a rotatividade.
A discussão destes resultados evidencia que, para reter a Geração Z em ambientes remotos, é fundamental adotar políticas de gestão de talento adaptativas, que combinem flexibilidade com clareza nas oportunidades de desenvolvimento. Além disso, reforça-se a importância de investir na capacitação de líderes para gerir equipas dispersas geograficamente, promovendo um ambiente de confiança, colaboração e reconhecimento.
Entre as limitações do estudo, destaca-se o formato em que foram desenvolvidos os focus group e o foco exclusivo no setor das IT, fatores que limitam a generalização dos resultados a outros contextos. Recomenda-se que investigações futuras explorem diferentes setores de atividade e combinem métodos qualitativos e quantitativos, de forma a validar e expandir as conclusões apresentadas.
Conclui-se que o alinhamento entre valores organizacionais e individuais, aliado a modelos de liderança empática e a oportunidades concretas de progressão, constitui um pilar essencial para potenciar a motivação e a retenção da Geração Z em regimes de home-office.
Este estudo contribui para a compreensão académica do tema e oferece orientações práticas para gestores e decisores que procuram otimizar as estratégias de gestão de talento nesta realidade laboral emergente.
Trabalho final de Mestrado