Pedro Nuno Santos, o sucessor com o desafio de manter o PS no governo
25-02-2024
Há anos que desejava ser líder do PS, conseguiu-o há dois meses. Fez um percurso com sobressaltos e tem “cicatrizes”. Mesmo que perca, poderá não ter a cabeça a prémio.
Na manhã seguinte à eleição de Pedro Nuno Santos, como secretário-geral do PS, e após um encontro entre ambos, o seu antecessor, António Costa, fez questão de deixar a mensagem de que “nenhum líder do PS está obrigado a ganhar eleições nenhumas”, acrescentando, em relação à especificidade das circunstâncias em que os socialistas disputam as legislativas antecipadas de 10 de Março: “Não se pode pedir que, em três meses, faça o que outros tiveram vários anos para preparar.”
Se é consensual, para vários dirigentes, que, ao fim de oito anos do PS à frente do Governo, é difícil concretizar o desafio que se coloca, o facto é que estão convencidos de que Pedro Nuno Santos conseguirá fazer história e garantir que o PS permanece no governo. Até porque entre os socialistas mantém-se um sentimento de revolta pela forma como António Costa teve de se demitir, na sequência da Operação Influencer.
Para cumprir esta missão, Pedro Nuno Santos promete defender o “legado” dos governos de António Costa e da história do PS, pois considera mesmo que “a governação do PS é um activo”. Está, porém, apostado em demonstrar que o PS continua a ser “a única alternativa”, o “partido da estabilidade”, e que, consigo, haverá um “novo impulso”, até porque “há problemas por resolver” e o “projecto” do PS para o país “está inacabado”.
Há muito que Pedro Nuno Santos, hoje com 46 anos, aguardava ser secretário-geral e desejava ser primeiro-ministro. Logo na preparação do Congresso de 2018, assumiu, em entrevista à Antena 1, esse propósito. Com a precipitação dos calendários eleitorais, teve de candidatar-se e assumir a liderança dois anos antes do que imaginava, ganhando as directas a José Luís Carneiro, com um resultado de 60,83% contra 37,4%.
De repente, Pedro Nuno Santos foi obrigado a crescer. Há, contudo, quem note que “revela ainda alguma insegurança” no novo papel. Mas vários dirigentes sublinham a “ponderação”, o “equilíbrio” e a “maturidade” que revelou ao constituir a direcção do PS e as listas eleitorais, mantendo a tradição de assegurar unidade interna.
É olhado como “radical”, sobretudo desde que, em 2010, num evento partidário, contestou que Portugal pagasse a dívida pública, afirmando: “Ou os senhores se põem finos, ou nós não pagamos. Se não pagarmos a dívida e se lhes dissermos, as pernas dos banqueiros alemães até tremem.” O facto é que Pedro Nuno Santos foi, entretanto, ganhando uma imagem de “impulsividade” e de ter desempenhado funções ministeriais com demasiada “informalidade”.
Uma marca que se lhe colou à pele, depois de ter de se demitir de ministro das Infra-Estruturas, em 29 de Dezembro de 2022, por ter sido paga uma indemnização de meio milhão de euros, pela saída da administração da TAP, a Alexandra Reis, depois nomeada secretária de Estado do Tesouro e que foi demitida do Governo, quando o Correio da Manhã noticiou o caso. Pedro Nuno Santos assumiu, semanas depois de sair do Governo, que afinal fora ele que autorizara, por WhatsApp, a indemnização.
Já antes, no final de Junho de 2022, Pedro Nuno Santos tinha ficado com a imagem de gerir o Ministério das Infra-Estruturas com “informalidade”, ao avançar com a decisão de construir o novo aeroporto no Montijo, através de um despacho que o primeiro-ministro, António Costa, o obrigou a revogar.
Impulsividade e “cicatrizes”
Mas há quem saliente ao PÚBLICO que quem considera assim Pedro Nuno Santos confunde “impulsividade e capacidade de decisão”. “Não é um político sóbrio, entrega-se com paixão, isso facilita que se confunda [as duas características]”, diz um dirigente socialista. Que observa que a sua imagem pública “tem que ver também com a forma apaixonada e aguerrida como faz política”. E sustenta que Pedro Nuno Santos tem “características que podem ser caricaturadas”.
O próprio fez questão de assumir que nem tudo no seu percurso político correu bem, ao apresentar a sua candidatura a líder. “Os portugueses, tal como os militantes do PS, conhecem as minhas qualidades e defeitos, a minha combatividade, a minha vontade de fazer acontecer, os meus sucessos. E os meus erros e cicatrizes”, afirmou. E acrescentou: “Os erros e cicatrizes que carregamos fazem parte das nossas vidas. Aqueles que não fazem, aqueles que não decidem, os que se limitam a manter o que existe raramente cometem erros.”
A seu favor tem salientado que, como ministro, pôs a TAP a dar lucro, assim como a CP. E há quem sublinhe o sucesso que teve no desempenho das suas funções, como secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, entre 2015 e 2019, legislatura em que foi o pivot das negociações bilaterais do Governo com o BE, o PCP e o PEV.
Desempenhou esse cargo governativo já depois de um longo percurso e experiência política. Licenciado em Economia, pelo Instituto Superior de Economia e Gestão, filho de um industrial e neto de um sapateiro, como tem destacado, Pedro Nuno Santos foi secretário-geral da JS entre 2004 e 2008, entrando no Parlamento, como deputado, em 2005, eleito pelo círculo de Aveiro, lista que sempre tem desde então integrado, como natural de São João da Madeira. Aliás, presidiu à Federação do PS-Aveiro, entre 2010 e 2017.
Desde cedo, Pedro Nuno Santos teve uma forma muito pessoal de fazer política. O seu primeiro acto, como líder da JS, foi, em 30 de Agosto de 2004, alugar uma lancha e ir, com jornalistas, dar uma conferência de imprensa ao largo, junto ao navio do movimento pró-aborto Womem on Waves, que Paulo Portas, então ministro da Defesa, proibiu que atracasse em portos portugueses.
Foi um dos líderes do movimento Jovens pelo Sim, que envolveu JS e BE na campanha do referendo que despenalizou o aborto em 2007. No Parlamento, apresentou um anteprojecto de lei sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo, que o então primeiro-ministro e líder do PS, José Sócrates, não deixou avançar. A legalização será uma realidade, mas em 2010, através de uma proposta de lei de José Sócrates.
Se não ganhar as eleições e se não tiver uma “derrota desonrosa”, ou uma segunda derrota em novas legislativas antecipadas, Pedro Nuno Santos deverá continuar a liderar o PS pelo menos até às autárquicas, em 2025. Mas se ganhar a 10 de Março, será o líder que cumpre o desafio de levar o PS, pela quarta vez sucessiva, a constituir governo.