Search button

Mestrados podem custar EUR20 mil: diretores dizem que ninguém fica de fora

Isabel Vicente Jornalista Faculdades querem que o Governo descongele o valor das propinas das licenciaturas fixado em EUR697 por ano Quanto custa um mestrado e porque é que há propinas desde EUR1000 a EUR19.650? Não existe uma resposta fechada para esta pergunta. Os mestrados ganharam vida própria após a Declaração de Bolonha, em 1999, quando as licenciaturas a nível europeu passaram a ser de três anos, salvo algumas exceções. Quem tem de escolher e faz uma busca nos diversos endereços das universidades públicas depara-se com propinas para mestrados muito díspares. Porquê, foi o que o Expresso perguntou a alguns dos dirigentes dos estabelecimentos de ensino superior. A questão que se seguiu foi, inevitavelmente, a de saber se, com preços tão elevados, os estudantes portugueses correm o risco de, tendo talento e conhecimento, não terem dinheiro para ir mais longe na vida académica. À segunda pergunta os dirigentes de três universidades/faculdades dizem que, havendo talento, requisitos e candidatos, não é a falta de capacidade financeira que deixa o aluno de fora. As bolsas, afirmam, servem para isso mesmo: venham elas do Estado, das próprias instituições de ensino ou até de privados. Pedro Oliveira, da Nova SBE, Rita Sousa, da Escola de Economia e Gestão (EEG) da Universidade do Minho, e João Duque, do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), atestam a existência de disparidades no custo dos mestrados, mas também advertem para o facto de serem muito inferiores aos praticados no resto dos países europeus – em Espanha, refere o dean da Nova SBE, um mestrado na área das Finanças custa o triplo. “Em Portugal somos quem tem propinas mais elevadas, mas em comparação com o top 20 [mundial], com quem competimos, não”, sustenta Pedro Oliveira, dean da Nova SBE, a faculdade que pratica os preços mais elevados de mestrados em Portugal – podem chegar quase aos EUR20 mil. Diretores admitem que cobram mais aos alunos fora da UE para poderem dar mais bolsas Os alunos portugueses com uma capacidade financeira menor “beneficiam de bolsas”, que a faculdade atribui. Pedro Oliveira admite mesmo que as propinas dos alunos internacionais (fora da União Europeia) são mais elevadas “exatamente para se poder atribuir mais bolsas e apoiar quem não tem capacidade para pagar”. E explica: “Somos um bocadinho o Robin dos Bosques, mal comparado; não roubamos nada a ninguém, mas quem pode pagar mais paga e quem não pode tem uma bolsa.” Para tal, garante, contribuiu a estratégia de internacionalização seguida pela Nova SBE: “Em termos europeus, somos o 7º melhor mestrado na área de Finanças e o 15º do mundo, segundo o ranking do Financial Times .” “O que temos de fazer é garantir que os alunos que se candidatem a um mestrado e tenham os requisitos exigidos pelas escolas não fiquem de fora”, sublinha. É nesse sentido que a Nova SBE vai investir até ao final do ano “EUR3,1 milhões no programa de bolsas”, face aos EUR2,4 milhões investidos em 2023, para “possibilitar o acesso a um ensino de qualidade a todos”. Rita Sousa, vice-presidente da EEG da Universidade do Minho para a Educação e Sustentabilidade, também não acredita que haja bons alunos a ficar para trás devido aos preços dos mestrados. “Não acho provável que os bons alunos fiquem de fora dos mestrados devido às propinas. Pelo que sei, os cursos de Gestão, Economia e afins, mesmo nas universidades mais caras, geralmente conseguem preencher as vagas. As médias de entrada são razoáveis, o que indica que os alunos com boas notas estão a entrar”, sublinha. Numa sondagem informal feita na EEG, onde se perguntava aos alunos finalistas o que influenciava na escolha da instituição para fazer o mestrado, “as propinas não se revelaram um fator determinante”. Nesta faculdade, que não é a mais acessível, mas também não é a mais cara, os custos das propinas dos mestrados oscilam entre os EUR2500 e os EUR3500. Preços dos mestrados em Portugal são muito menores do que os praticados na Europa, diz o dean da Nova SBE A duração do mestrado – que pode ir de um a dois anos – funciona como atenuante do preço, acredita Rita Sousa. “O mestrado representa um investimento de muito curta duração”, daí que os alunos valorizem sobretudo a instituição onde vão estudar. “Muitos estudantes manifestaram principalmente uma preferência por diversificar a sua formação, optando por instituições diferentes para fazer o mestrado daquelas onde fizeram a licenciatura”, explica. Para o presidente do ISEG, em Lisboa, o fundamental “é ter mais bolsas para atrair e reter mais talento”. João Duque defende até que “os valores deverão ser mais elevados para acompanhar a tendência do mercado”. Com uma condição, porém: “Cabe às instituições arranjar apoios para atribuir bolsas e apoiar estudantes com maiores dificuldades”, sem que estejam “dependentes do Estado”. Um caminho difícil, porque, reconhece, “muitas vezes não é fácil obter financiamento privado para bolsas”. No ISEG, “a associação de antigos alunos contribuiu” para que este caminho continuasse a ser feito. Aqui os mestrados vão dos EUR4950 aos EUR7900 para alunos da União Europeia. O Expresso tentou falar com o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, Paulo Jorge Ferreira, também responsável pela Universidade de Aveiro, mas não foi possível. Diretores querem cobrar mais pelas licenciaturas Se os valores dos mestrados podem ser livremente definidos por cada instituição de ensino, o mesmo não sucede com os preços das propinas para as licenciaturas, que desde 2020 estão congelados no valor máximo de EUR697 anuais, sendo que o valor mínimo é de EUR450. Estes preços são definidos pelo Orçamento do Estado e os responsáveis com quem o Expresso falou esperam que no novo Orçamento o Governo descongele estes valores. Para quanto? Ninguém sabe. A preocupação que levou ao congelamento das propinas foi de cariz social, justificado pela incerteza sobre o futuro, mas nada se alterou no pós-pandemia. Rita Sousa, da EEG da Universidade do Minho, afirma que “o congelamento de propinas tem sido uma prática corrente” e que “as implicações são relevantes”. Também Pedro Oliveira, da Nova SBE, vinca que “seria desejável as propinas serem descongeladas”. João Duque afirma que este pode ser um problema, até porque, para “contratar professores e fazer face aos gastos e necessidades de cada mestrado, as escolas precisam de gerir muito bem as suas receitas”. CURIOSIDADES SOBRE O ENSINO SUPERIOR EM PORTUGAL Desde 1986 que há mais mulheres do que homens inscritos no Ensino Superior. Atualmente, são 54% do total. No passado ano letivo (2022/23), foi atingido o recorde de alunos inscritos: eram 446.028 (incluindo todos os ciclos de estudos do ensino público e privado). São mais 18% do que há dez anos. O número anual de diplomados mais do que duplicou em três décadas. Quase 96 mil terminaram os estudos em 2023 – e em 1996 foram 42 mil. Cerca de 38% dos alunos do 1º ano, inscritos pela primeira vez em 2022/23, estavam em instituições na Área Metropolitana de Lisboa. O Norte tinha 33% dos alunos. Para o próximo ano letivo (2024/25) já foram colocados 49.963 estudantes. Sobram agora 4996 vagas para a 2ª fase. As candidaturas estão a decorrer até 4 de setembro e os resultados saem a 15 de setembro. Phelipe de Andrade e Raquel Albuquerque