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Porque é que o preço do ouro não para de subir?

O preço do ouro continua a subir e a bater recordes diários. De acordo com a Lusa, esta quinta-feira voltou a quebrar máximos históricos e ficou perto de 3.060 dólares a onça. O que faz este metal precioso voltar a ser tão relevante nos dias de hoje? O contexto geopolítico cada vez mais instável pode estar no centro da questão, levando investidores a procurar portos seguros. O ouro tem sido, ao longo dos séculos, um símbolo de riqueza e segurança. A sua importância consolidou-se especialmente após a Segunda Guerra Mundial, com o Acordo de Bretton Woods (1944), que vinculou o dólar ao ouro, garantindo estabilidade às economias devastadas pelo conflito. “É curioso. O ouro como metal precioso raro, está a ter aqui novamente um papel preponderante na civilização humana”, aponta Carlos Silva Lourenço, professor e investigador no ISEG. Porquê que o ouro é visto como um investimento tão seguro? É um metal raro e resistenteBom condutor elétricoMantém valor ao longo do tempoAceite universalmente como forma de riqueza O professor do ISEG reforça que o único cenário em que o ouro perderia valor seria algo “lunático e caricato”, como uma bactéria que invadisse o planeta e fosse capaz de alterar as suas propriedades. O ouro como metal precioso raro, está a ter aqui novamente um papel preponderante na civilização humana. Para o economista existem três razões cronológicas que justificam a considerável subida do preço do ouro e sublinha: “não são todas de agora”. O início da invasão russa no território ucraniano: “Despoletou o primeiro grande aumento no preço do ouro devido ao congelamento dos ativos do banco central russo”.A guerra comercial iminente, gerada pela incerteza relativamente às tarifas que foram anunciadas pelo nova administração Trump.A descida das taxas de juros. “Os investidores procuram portos seguros, e o ouro, historicamente, é um dos ativos mais confiáveis na lógica do investimento financeiro em tempos de crise.”, refere o professor. As pessoas estão a investir mais no ouro? O professor explica que o aumento da procura não vem dos consumidores, mas sim dos bancos centrais e dos investidores institucionais, que veem o ouro como uma garantia para tempos de incerteza. “Os bancos centrais precisam de um seguro para o seu endividamento. O ouro é essa garantia.”, afirma. Questionado sobre o facto de hoje em dia os jovens priorizarem outro tipo de ativos financeiros – como as criptomoedas ou ações – em vez do ouro, o economista alerta para uma comportamento eurocêntrico do consumo: “Enquanto no Ocidente os jovens podem demonstrar menos interesse pelo ouro, em países asiáticos e no Médio Oriente o ouro continua a ser valorizado como sempre foi”, refere o investigador. Quem está mais interessado nesta tendência? O economista refere que do lado da oferta temos dois produtores de ouro que estão empenhados nesta subida: a Rússia e a China. Do lado russo, os incentivos estão ligados às sanções europeias, que impedem o país de aceder a parte dos ativos no seu Banco Central (moedas de outros países por exemplo). O ouro, como reserva de valor universal, é um dos ativos que a Rússia pode transacionar com outros países, por exemplo a China, e contornar algumas destas sanções. “Ou seja, paradoxalmente, o aumento do preço do ouro está a enriquecer os cofres russos e também os cofres chineses”, alerta o investigador. Esta pode ser uma razão para que tanto um como o outro não tenham especial pressa na resolução do conflito com a Ucrânia ou numa resposta às medidas económicas de Trump, por exemplo. “Se nós tivermos uma resolução rápida para o conflito russo-ucraniano, que interessa nomeadamente aos Estados Unidos, se tivermos um aligeirar destas ameaças ao comércio internacional que é ocupado pela administração norte-americana, e se tivermos uma descida das taxas de juros não tão acentuada, nomeadamente pela reserva federal norte-americana, o cenário mudava”, reflete o investigador. Ou seja, paradoxalmente, o aumento do preço do ouro está a enriquecer os cofres russos e também os cofres chineses. Ao mesmo tempo que a resolução rápida da guerra na Ucrânia beneficia os EUA em termos de posicionamento no Ocidente, também o aumento do preço do ouro é vantajoso, num país que tem a moeda nacional indexada a este metal. E com isto, temos pelo menos três superpotências a não querer o ouro mais barato. O ouro vai ficar ainda mais valioso? “Todas estimativas feitas até agora falharam porque o aumento tem sido ainda maior do que o previsto”, realça. Enquanto o mundo atravessa tempos instáveis, o ouro reafirma o seu estatuto: um refúgio seguro que resiste ao tempo e às crise: “É provável que os aumentos no preço do ouro sejam ainda mais expressivos do que as previsões indicam.”, conclui o professor do ISEG. Subscreve a nossa newsletter NEXT, onde todas as segundas-feiras podes ler as melhores histórias do mundo da inovação e das empresas em Portugal e lá fora. Marta Amaral