A responsabilidade dos Economistas
António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas
Hoje, 00:11
Cabe aos Economistas um papel insubstituível na libertação das ideias antigas. E, quanto mais não seja, na produção de bom senso que é coisa que escasseia nos tempos que correm.
“A economia é o que fazem os economistas”.
A afirmação, é de Jacob Viener, um economista da escola de Chicago que chegou a concordar com Keynes no que respeita á eficácia da política económica no curto prazo, mas discordava que ela produzisse efeitos a longo prazo.
Viener foi, sem dúvida, um vulto importante da teoria económica e as suas ideias foram referência, não apenas na construção da teoria económica neoclássica, mas também na discussão que se seguiu à chamada segunda crise da teoria económica, quando a teoria keynesiana, dominante no período posterior à segunda guerra mundial, foi posta em xeque na sequência da ocorrência de um fenómeno “inexplicável” – a estagflação.
Que relação podemos estabelecer entre estas duas considerações?
Numa primeira leitura, a afirmação de Viener parece não passar de uma tautologia.
Numa leitura mais serena, porém, a afirmação adquire um significado profundo e moderno. A economia é um objeto em permanente transformação, dependendo da evolução da ciência económica, por um lado, da evolução da realidade económica, por outro e, por último, da síntese entre a evolução da formação dos Economistas e a sua capacidade de compreenderem e de incorporarem na ciência económica, as transformações da economia e os novos fenómenos económicos que elas fazem emergir. A estagflação é apenas um caso particular.
Sem dúvida que hoje, a realidade económica, seja em que dimensão for considerada, é muito diferente do que era no período do pós-Segunda Guerra Mundial, no período pós-crise energética dos anos 70 do século passado, ou mesmo no período que se seguiu à crise de 2008-2009. E não deixa de ser outra coisa, quando consideramos o período pós-Covid e os acontecimentos que se seguiram, com as guerras da Ucrânia e do Médio Oriente. E vamos ver o que acontecerá, na sequência da tomada de posse do novo presidente americano.
E aqui vamos ao encontro da segunda consideração.
Desde a origem da economia como oikos nomus, ou administração da casa, como era vista por Aristóteles, até aos nossos dias, como administração do Estado e das suas múltiplas dimensões particulares, os “Economistas”, independentemente das suas referências mais intervencionistas ou mais liberais, tiveram sempre um papel fundamental. As suas análises, as suas proposições ou as suas atuações, nos planos microeconómico, sectorial, macroeconómico, de apoio à decisão política, ou mesmo no plano da decisão política, não deixaram de influenciar a evolução da própria realidade económica. E a ciência económica evoluiu, produzindo novas sínteses no quadro da disputa teórica e novos paradigmas dominantes que, independente da sua maior ou menor coerência interna, se tornaram referência para a intervenção dos responsáveis políticos.
Estamos numa fase em que os Economistas são uma vez mais chamados a desempenhar um papel fundamental. Um papel de análise e reflexão, mas também de procura de novos modelos económicos que permitam superar os constrangimentos e encontrar respostas para os problemas que são evidentes, mas que os responsáveis políticos se têm recusado a considerar na sua real dimensão e potencial de destruição.
Como dizia Keynes no seu prefácio à Teoria Geral, o “difícil não é aderir às novas ideias, o difícil é libertar-se das antigas”. E esta afirmação adquire pleno significado nos dias de hoje. Cabe aos Economistas um papel insubstituível na libertação das ideias antigas. E, quanto mais não seja, na produção de bom senso que é coisa que escasseia nos tempos que correm.
António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas
Hoje, 00:11
António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas
War: what is it good for?
Joana Santos Silva, CEO e Professora, ISEG Executive Education
Hoje, 00:05
Precisamos de indivíduos e líderes corajosos que, acima de tudo, consigam encaminhar-nos para uma situação de maior equilíbrio e menor agressividade.
Alguns dos temas que mais marcaram 2024 foram dívida, populismo, conflito, clima e tecnologia. Todos mereciam uma reflexão exaustiva, contudo, preocupam-me mais os conflitos e a instabilidade geopolítica com que entramos em 2025.
Acumulado à guerra Rússia-Ucrânia observámos a escalada dos conflitos no Médio Oriente. Mas não só: 42 países (quase 1/4 do mundo) estiveram em guerra ou em algum tipo de conflito ou insurgência em 2024 e, até outubro, morreram cerca de 150.000 pessoas na sequência desses conflitos.
A sensação de instabilidade a nível mundial também tem aumentado com a ameaça de uma nova guerra fria e o espetro de uma guerra nuclear. Especialistas afirmam que estamos na terceira era nuclear. A primeira oscilou entre um momento de détente e de aquecimento, mas que já em 1953 tinha a possibilidade de eliminar ¼ da população mundial. A segunda foi uma fase de desarmamento e de alinhamento através de tratados e esforços diplomáticos. Neste momento, estamos num ponto de viragem que pode tender para a escalada da crise, pois a própria paz contratual está quase omissa.
Nos últimos 70 anos de era nuclear, a humanidade esteve uma dezena de vezes à beira do precipício. Em quase todas essas ocasiões, uma pessoa só travou a aniquilação da civilização humana.
Stanislav Petrov ficou conhecido como o homem que salvou o mundo a 26 de setembro de 1983, pois recusou aceitar a informação do sistema de satélites russos que alertou para um falso ataque nuclear dos EUA contra o bloco soviético.
Em 1971, Daniel Ellsberg passou à imprensa os chamados Pentagon Papers – que continham dados confidenciais a respeito da guerra do Vietname – mas também sobre o desenvolvimento do arsenal nuclear norte-americano.
O telefilme realizado por Nicholas Meyer, The Day After, foi o mais visto de sempre e parou a América durante duas horas em 1983.
Líderes como Mikhail Gorbachev e Ronald Reagan, apesar de não partilharem a mesma visão ideológica, entenderam que a paz e a cooperação era o caminho certo. De assinalar a perda de Jimmy Carter, um dos grandes estadistas humanitários, que teve um papel fundamental na negociação de vários conflitos, em particular no Médio Oriente e na Rússia.
Têm sido indivíduos e não o sistema a proteger a paz coletiva. O sistema não é suficientemente robusto para manter e criar a paz. Um mundo em que a paz está assente num sistema de destruição mutuamente assegurada, como a sigla em inglês pressupõe (MAD), está de facto louco! Precisamos, sim, de indivíduos e líderes corajosos que, acima de tudo, consigam encaminhar-nos para uma situação de maior equilíbrio e menor agressividade.
A escolher uma palavra para 2024, escolho esperança. De que conseguiremos ultrapassar os “tempos interessantes” em prol do bem-estar de todos. Espero que tenhamos aprendido lições no ano que terminou para que aquele que agora se inicia possa ser mais justo para todos. Feliz 2025!
Joana Santos Silva, CEO e Professora, ISEG Executive Education
Hoje, 00:05
Joana Santos Silva, CEO e Professora, ISEG Executive Education
Um novo modelo económico para a Europa
António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas
Hoje, 00:13
Os sucessivos responsáveis europeus deram prioridade ao alargamento aos países do centro e do Leste da Europa, sacrificando a dinâmica de aprofundamento, acentuando as assimetrias internas e provocando uma reorientação do sistema de relações e de hierarquia de interesses.
Neste início de 2025, retomamos a crise europeia, agora na sequência da recente intervenção de Mario Draghi, no jantar do III Simpósio de Paris do Centro de Investigação de Política Económica – CEPR, em 15 de dezembro último.
Perante uma plateia de académicos, investigadores e outros especialistas, o ex-presidente do BCE explicita e sintetiza de uma forma muito clara a sua visão das razões que conduziram à estagnação económica da Europa e à perda de competitividade face à China e aos Estados Unidos.
Primeiro, os governos fizeram muito pouco para completar o mercado interno, enquanto enfraqueceram as próprias regras do seu funcionamento. Segundo, não promoveram convenientemente a integração dos mercados de capitais. Terceiro, deram prioridade a um modelo económico orientado para a procura externa e para a exportação de capitais. Quarto, este modelo económico baseou-se em baixos salários, como forma de assegurar a competitividade externa, o que sacrificou o já fraco ciclo de rendimento-consumo.
No fundo, o que Draghi está a dizer, é que a Europa foi incapaz de se ajustar às grandes transformações da economia global na viragem dos anos 80 para os anos 90, com a implosão do bloco soviético e a emergência da China na economia global.
Os sucessivos responsáveis europeus deram prioridade ao alargamento aos países do centro e do Leste da Europa, sacrificando a dinâmica de aprofundamento, acentuando as assimetrias internas e provocando uma reorientação do sistema de relações e de hierarquia de interesses, onde a Alemanha se tornou a potência hegemónica. Ao fazerem esta opção, os responsáveis europeus deixaram arrastar-se para um modelo económico prisioneiro dos retornos de curto prazo, descurando a produção de mecanismos de sustentação interna da dinâmica de inovação e crescimento a longo prazo.
A agravar tudo isto, a aposta na competividade baseada na contenção salarial bloqueou o mecanismo de progressão de rendimentos e de formação de classes médias, característico do período posterior à Segunda Guerra Mundial, estendendo a crise do modelo económico à esfera política, potenciando a emergência do populismo e subvertendo radicalmente o sistema de equilíbrios estabelecido.
Olhando para o futuro, se a Europa quiser recuperar o dinamismo económico e projetar a sua influência na Economia Global, terá de construir um novo modelo económico. Um modelo que aposte no investimento, público e privado, e na progressão de rendimentos. E que recupere a dinâmica do ciclo rendimento-consumo, sem descurar a coerência e sustentabilidade do sistema produtivo interno e a redução de dependências, entretanto, evidenciadas.
Um novo modelo económico que deverá ter na inovação tecnológica e organizacional o seu desiderato fundamental, exigindo uma aposta na investigação e na formação qualificada, ao mesmo tempo que a introdução de uma orientação estratégica de desenvolvimento a médio e longo prazo.
Um novo modelo, ainda, que, no contexto da sua articulação com a economia global, deverá cortar com a visão primária de competitividade estrita que conduziu à crise atual e adotar uma nova visão de competividade, sistémica e global, alicerçada no reforço da cooperação e do papel das instituições económicas internacionais.
Algo que a Europa está em condições de liderar se aprofundar o seu próprio processo de integração interna, com novas regras de relacionamento e resistindo à tentação de constituir novos eixos de interesses e de produção de hegemonias.
A terminar, os meus votos de um Bom Novo Modelo Económico!
António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas
Hoje, 00:13
António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas
Como a Inteligência Artificial pode transformar o seu negócio
Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG
Hoje, 00:08
As empresas que dominam o uso de dados e inteligência artificial destacam-se pela inovação, explorando novas oportunidades e desenvolvendo modelos de negócio disruptivos.
Em 2025, tirar partido dos dados de forma estratégica, aliado à inteligência artificial (IA), será o principal motor de inovação e competitividade para as empresas. No entanto, a verdadeira transformação não reside apenas em acumular grandes volumes de informação: trata-se de transformar esses dados em conhecimento acionável, capaz de impulsionar decisões e gerar valor real. A combinação de IA e dados representa um passo essencial para as organizações que desejam liderar nos seus setores.
Para começar, as empresas devem avaliar a maturidade digital e a infraestrutura existente. Muitos negócios ainda enfrentam o desafio de dados fragmentados, armazenados em silos ou sistemas ultrapassados. Ultrapassar este obstáculo exige investimento em tecnologia, como plataformas de armazenamento na cloud e soluções de integração que consolidem diferentes fontes de dados em tempo real. Estes sistemas, quando combinados com algoritmos de IA, permitem identificar padrões, prever tendências e automatizar tarefas com uma precisão sem precedentes.
Mas a tecnologia é apenas parte do “puzzle”. Sem pessoas a transformação não acontecerá. A contratação de talentos especializados, como data specialists e engenheiros de machine learning, é fundamental para traduzir os números em insights valiosos. Paralelamente, as empresas devem cultivar uma cultura orientada por dados, onde decisões são fundamentadas em evidências e potencializadas pela IA. Este processo implica formação contínua para as equipas e um compromisso da liderança em colocar os dados e a inteligência artificial no centro das estratégias empresariais.
Investimentos adicionais incluem ferramentas de Business Intelligence e Machine Learning, que utilizam algoritmos de IA para prever comportamentos de clientes, identificar oportunidades de mercado ou otimizar processos internos. Por exemplo, ao antecipar a procura por produtos, a “supply chain” pode ser ajustada de forma a reduzir ineficiências e maximizar lucros. Além disso, a “governance dos dados” e o cumprimento das regulamentações de proteção de privacidade são indispensáveis para garantir que o uso da IA é ético e responsável.
Os benefícios de integrar IA e dados no negócio são impressionantes porém também não são imediatos. Tal como uma semente que se deita à terra, é preciso regá-la e nutri-la para que possa crescer e dar frutos. Vários estudos indicam que empresas que adotam esta abordagem conseguem reduzir custos operacionais, aumentar receitas e oferecer experiências personalizadas aos seus clientes. Imagine uma marca de retalho que, com IA, prevê tendências de compra ou recomenda produtos com base no histórico dos consumidores, aumentando a fidelização e o valor de cada cliente. Simultaneamente, decisões fundamentadas por algoritmos reduzem riscos, melhoram a eficiência e tornam a organização mais ágil face às mudanças do mercado.
Concluindo, o impacto vai além dos números: as empresas que dominam o uso de dados e inteligência artificial destacam-se pela inovação, explorando novas oportunidades e desenvolvendo modelos de negócio disruptivos. No entanto, é crucial garantir que o uso de dados e IA respeita princípios éticos, como a transparência e a não discriminação, para evitar impactos negativos na sociedade. Em 2025, tirar partido da IA e dos dados não será apenas uma vantagem competitiva, mas uma condição para prosperar num mercado cada vez mais dinâmico e digitalizado. A revolução já começou – e os que liderarem este movimento estarão na vanguarda do futuro empresarial.
Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG
Hoje, 00:08
Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG
Ainda as crises da Alemanha e da França
António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas
Hoje, 00:10
2025 vai trazer novas dinâmicas às relações europeias e internacionais a que a Europa, no seu conjunto, se quiser continuar a existir como projeto comum de desenvolvimento económico e de referência democrática para o Mundo, vai ter de dar resposta.
As crises económicas e políticas da Alemanha e da França atuais, embora sejam manifestações das dificuldades particulares de cada um dos países, não deixam de constituir uma expressão mais geral da organização e funcionamento atual das instituições da União Europeia e da Zona Euro, mais especificamente.
Longe vão os tempos da euforia da integração europeia, associada aos projetos de constituição do Mercado Único, da criação da União Económica e Monetária e da introdução do euro.
As décadas de 80 e 90 do século passado foram, sem dúvida, um período notável de progressos na integração económica que antecipavam novos e mais vastos desenvolvimentos, designadamente em direção ao aprofundamento da integração política. As próprias instituições políticas europeias evoluíram nesta perspetiva que se pensava poder vir a ser concretizada num prazo não muito distante.
Todavia, um acontecimento inesperado veio subverter completamente esta perspetiva e gerar uma alteração radical de estratégia que hoje, passadas três décadas, é legitimo questionar em termos da sua clarividência – estamos a falar da implosão do bloco soviético e da prioridade que passou a ser dada ao alargamento aos países do centro e do leste da Europa em detrimento do aprofundamento da integração do bloco ocidental, já constituído, que a introdução de uma moeda única exigiria.
Esta mudança de prioridades e a evolução que, entretanto, se produziu, conduziu a uma mudança na dinâmica da construção europeia, favorecendo sobretudo o papel da Alemanha em detrimento da França e de outros países, incluindo Portugal, que não deixou de ser afetado no seu processo de convergência pela concorrência gerada pela entrada de novos países, mais qualificados, mais baratos e mais atrativos, seja em termos de mercado de trabalho, seja em termos de investimento e de proximidade do centro económico.
Olhando em perspetiva, não é difícil ver que a Alemanha foi o principal beneficiário de todo este novo desenvolvimento do processo de integração europeia, assegurando novas condições de investimento, novos mercados, energia barata e competitividade interna e internacional, proporcionada por um euro subvalorizado face ao que teria sido a manutenção do marco. Em contrapartida, outros países, em particular a França, não conseguiram tirar o mesmo partido da nova situação, incluindo no plano da sua indústria energética nuclear. A própria saída do Reino Unido da União Europeia e a sua reorientação estratégica para o mundo anglo-saxónico, não será alheia a esta alteração da relação de forças e de visão estratégica no seio da União Europeia.
O ano de 2025 vai trazer, seguramente – e não apenas em resultado da assunção de funções por Donald Trump -, novas dinâmicas às relações europeias e internacionais a que a Europa, no seu conjunto, se quiser continuar a existir como projeto comum de desenvolvimento económico e de referência democrática para o Mundo, vai ter de dar resposta.
Em primeiro lugar, vai ter de encontrar o seu próprio lugar no contexto das transformações em curso e da alteração da correlação de forças que se está a produzir à escala global. E, nesta perspetiva, é fundamental recuperar uma dinâmica de produção de interesse comum e de identidade própria que lhe tem faltado, em larga medida, nos últimos tempos.
Mas, também, é fundamental fazer progressos no plano da arquitetura institucional e do funcionamento das suas estruturas fundamentais, substituindo a cultura instalada de produção de burocracia e de procrastinação (para utilizar o termo do Relatório Draghi) por uma cultura de inovação, de simplificação e de orientação pragmática para a resolução dos problemas, dependências e constrangimentos. E é, sobretudo, necessário avançar no plano da política económica integrada e na introdução, concomitante, de uma visão estratégica, onde se inclui o desenvolvimento tecnológico e as qualificações adequadas, a sustentabilidade energética e o abastecimento de matérias-primas.
Feliz Natal e Bom Ano Novo!
António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas
Hoje, 00:10
António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas
Portugal é o novo ´hub´ emergente do ensino superior da gestão
Rankings são o resultado mais visível de uma estratégia que mudou a face do ensino da gestão em Portugal. Em 10 anos, o país construiu uma indústria de qualidade, tornou-se exportador e referência na Europa.
A corrida feita pelas escolas de negócios portuguesas, é pura velocidade, daquela que nos faz sonhar com Usain Bolt de novo no tartan. Portugal levou apenas 10 anos para saltar de um lugar modesto para o topo da Europa, ombreando com países como a Holanda ou a Suíça.
No ranking das business schools 2024 do Financial Times (FT) seis falam português: Nova SBE,Católica-Lisbon, FEP/PBS, Iscte, Iseg e Católica Porto Business School. “Portugal, este ano pela primeira vez com seis Escolas no ranking, continua a afirmar-se como um notável hub no ensino de Gestão”, afirma João Duque, presidente do ISEG.
Maria João Cortinhal, dean da Iscte Business School, também assinala o “hub emergente de ensino superior de gestão”, enfatizando a qualidade e a relevância do país no panorama educativo europeu. Ao JE, a professora destaca o papel das Escolas portuguesas na formação de graduados com uma perspetiva global, capacitando-os com competências de alta qualidade”. Este impacto, adianta, não se limita à educação; várias empresas têm estabelecido centros de competência em Portugal devido à excelência dos nossos programas. Dá como exemplo os serviços financeiros e a sua alta preparação para desafios internacionais.
Conteúdo reservado a assinantes. Para ler a versão completa, aceda aqui ao JE Leitor.
Almerinda Romeira
Bolsas de estudo para ajudar a mudar códigos postais difíceis
Formação : Instituto Rodrigo Guimarães dispõe de um orçamento de meio milhão de euros anuais, dos quais 200 mil para bolsas universitárias. Programa Step Up, outra iniciativa da instituição, fomenta empreendedorismo nos jovens do secundário
oana Domingues Ramos, 24 anos, é trader de Produtos Estruturados no BNP Paribas. Especializou-se em Finanças no ISEG, onde estudou com uma bolsa atribuída pelo Instituto Rodrigo Guimarães, fundado em 2022, após a morte extemporânea do fundador da sociedade gestora de fundos Explorer Investments, para ajudar jovens de contextos financeiramente desfavorecidos a ir mais além.
Almerinda Romeira
Sem dados, a inteligência artificial é um conceito vazio
Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG
Hoje, 00:07
Empresas que pretendem prosperar na era digital precisam de abraçar este desafio, investindo na criação de infraestruturas de dados robustas e capacitando as suas equipas com as ferramentas e competências necessárias.
Num mundo onde as empresas produzem volumes imensos de dados diariamente, o paradoxo é evidente: a maioria dessas informações nunca chega a ser analisada. Segundo um estudo da Accenture, entre 60% e 73% dos dados gerados permanecem inexplorados, representando uma oportunidade perdida tanto para a criação de valor como para o desenvolvimento de estratégias sustentáveis.
Esta realidade expõe um paradoxo crítico: enquanto os dados são frequentemente descritos como o “novo petróleo”, a incapacidade de refiná-los transforma-os em pouco mais que uma reserva inutilizada. No contexto da inteligência artificial (IA), esta lacuna é ainda mais grave, uma vez que a eficácia de qualquer modelo de IA depende, acima de tudo, da qualidade e relevância dos dados disponíveis.
A frase “We are drowning in data, but starving for insights” resume perfeitamente este cenário. As organizações acumulam volumes exponenciais de informações provenientes de sensores, redes sociais, transações e interações digitais, mas essa abundância, por si só, não se traduz em conhecimento útil. A inteligência artificial, que depende de grandes volumes de dados para treinar modelos, identificar padrões e oferecer previsões precisas, falha inevitavelmente quando os dados não são adequadamente estruturados, limpos e interpretados.
O primeiro obstáculo reside na natureza dos dados em si. A maior parte dos dados produzidos hoje é não estruturada: texto livre, imagens, vídeos, áudio ou registos de dispositivos IoT. Este tipo de dados, embora rico em potencial, não é imediatamente utilizável para modelos de IA sem um processo de transformação rigoroso. É aqui que surgem as etapas essenciais de preparação: desde a recolha e limpeza até à análise e armazenamento, cada fase desempenha um papel crucial no sucesso ou fracasso de qualquer estratégia de IA.
Sem dados de qualidade, mesmo os algoritmos mais sofisticados produzem resultados enviesados ou imprecisos. Modelos treinados em dados incompletos ou mal preparados amplificam falhas, em vez de fornecer insights úteis. Este fenómeno não é apenas um problema técnico; tem implicações estratégicas profundas. Uma empresa que baseia decisões em modelos alimentados por dados deficientes corre o risco de comprometer a sua competitividade, prejudicar a relação com os clientes e tomar decisões financeiras desastrosas.
A integração de dados relevantes é outro desafio significativo. Nas empresas, é comum que diferentes departamentos recolham e armazenem dados em silos, isolando informações que poderiam, juntas, oferecer uma visão mais completa do negócio. Uma estratégia de IA bem-sucedida requer a criação de pipelines de dados eficientes, onde fluxos de informação possam ser consolidados, transformados e analisados de forma coesa. Ferramentas como data lakes e plataformas de integração são cruciais para alcançar este objetivo, mas a sua implementação requer não apenas investimento em tecnologia, mas também uma mudança cultural que promova a colaboração entre equipas.
Além disso, uma estratégia de IA sustentável exige mais do que tecnologia avançada: é necessário talento humano. Cientistas de dados, engenheiros de machine learning e especialistas em ética de dados desempenham papéis fundamentais na construção de modelos robustos e transparentes. São eles que garantem que os dados utilizados são representativos, que os resultados são explicáveis e que os processos respeitam normas éticas e regulamentares.
No entanto, os dados, per se, não são a solução. São a base, mas a capacidade de os transformar em conhecimento acionável é o que separa empresas que lideram mercados daquelas que ficam para trás. O verdadeiro potencial da inteligência artificial é alcançado quando os dados alimentam modelos capazes de fornecer previsões precisas, identificar oportunidades ocultas e mitigar riscos antes que estes se concretizem.
Concluindo, sem dados, a inteligência artificial não é mais do que um conceito vazio. E sem estratégias sólidas para recolher, estruturar e utilizar esses dados, o potencial transformador da IA permanece inexplorado. Empresas que pretendem prosperar na era digital precisam de abraçar este desafio, investindo na criação de infraestruturas de dados robustas e capacitando as suas equipas com as ferramentas e competências necessárias. Porque, no final, o sucesso da IA não depende apenas da tecnologia, mas da qualidade e relevância dos dados que a sustentam.
Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG
Hoje, 00:07
Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG
Portugal tem pela primeira vez seis escolas de negócios no top-100 das melhores da Europa
A NOVA SBE conquista a melhor posição de sempre – 18.ª – de uma escola portuguesa no ranking do Financial Times Best European Business Schools 2024. Os resultados divulgados esta segunda-feira, 2 de novembro, trazem outra novidade de estalo: a Católica Porto Business School integra pela primeira vez o top, juntando-se neste olimpo à Católica-Lisbon, Universidade do Porto FEP/PBS, e lisboetas ISCTE e ISEG
A NOVA SBE conquista a melhor posição de sempre – 18.ª – de uma escola portuguesa no ranking do Financial Times Best European Business Schools 2024. Os resultados divulgados esta segunda-feira, 2 de novembro, trazem outra novidade de estalo: a Católica Porto Business School integra pela primeira vez o top, juntando-se neste olimpo à Católica-Lisbon, Universidade do Porto FEP/PBS, e lisboetas ISCTE e ISEG.
A Nova School of Business & Economics (Nova SBE) conquista a melhor posição de sempre – 18.ª – de uma escola portuguesa no ranking do Financial Times Best European Business Schools 2024, cujos resultados são divulgados ao primeiro minuto desta segunda-feira, 2 de dezembro.
Outra novidade relevante desta edição é a entrada da Católica Porto Business School no seleto grupo das melhores escolas de negócios europeias. A performance da CPBS eleva para seis o número de instituições portuguesas no chamado ranking dos rankings, elaborado com base na agregação de quatro rankings já divulgados: Mestrado em Gestão, Formação de Executivos Programas Abertos e Programas Customizados e MBA.
A CATÓLICA-LISBON, a Universidade do Porto através da FEP/PBS, o ISCTE e o ISEG são as outras quatro escolas portuguesas, num ranking dominado pelas francesas. Nada menos do que 27 business schools gaulesas figuram no top-100, incluindo a líder – INSEAD, e a segunda classificada – HEC Paris.
NOVA SBE
O 18.º lugar da Nova School of Business and Economics (Nova SBE) no Top 100 europeu representa uma subida de três posições na classificação global face ao ano anterior, reforça a liderança nacional e consolida a Nova SBE como uma referência no panorama das escolas de negócios na Europa. Este desempenho reflete as posições de destaque alcançadas nos rankings específicos: 7.º lugar com o Mestrado Internacional em Gestão, 11.º lugar com os programas customizados de Formação de Executivos, 24.º lugar com o Lisbon MBA, 26.º lugar com os programas abertos de Formação de Executivos e 28.º lugar com o Lisbon MBA Executive.
Estes resultados foram determinantes para a posição histórica agora alcançada. “Voltamos a fazer história ao entrar pela primeira vez no top 20 deste ranking. Esta conquista deixa-nos muito orgulhosos e conscientes de que estamos no caminho certo para elevar a qualidade do ensino superior, não apenas em Portugal, mas também a nível global”, afirma Pedro Oliveira, dean da NOVA SBE.
“O nosso compromisso com a excelência académica e o desenvolvimento de talento para contextos empresariais internacionais tem-se revelado uma aposta ganha, posicionando a Nova SBE como um parceiro estratégico de referência e um pilar essencial do ensino superior em Portugal e na Europa, estando entre escolas que tanto respeitamos como o INSEAD e a London Business School, entre outras”, salienta.
CATÓLICA PORTO BUSINESS SCHOOL
É a grande novidade. A Católica Porto Business School figura pela primeira vez no ranking das 100 melhores Escolas de Negócios da Europa. A integração no Financial Times European Business School Rankings – 2024 soma-se à tripla acreditação internacional da EQUIS, AMBA e AACSB, o que reforça o posicionamento da Escola ao nível do ensino, da investigação e do seu impacto na sociedade.
“A integração da Católica Porto Business School neste ranking tão prestigiado é o reconhecimento de todo o trabalho que temos vindo a fazer no reforço da oferta formativa e nos cursos executivos internacionais, mas também na qualidade das parcerias que nos permitem alavancar a excelência da nossa Faculdade,” afirma João Pinto, diretor da Católica Porto Business School, acrescentando “temos também feito uma grande aposta na atração de talento e na interligação entre o ensino, a investigação e a inovação.”
Segundo Paulo Alves, vice-dean para a área da Qualidade e das Acreditações da Católica Porto Business School, “alguns dos fatores que contribuíram para estarmos neste ranking foram a elevada progressão salarial dos nossos graduados – por exemplo, os alunos que completaram o mestrado em gestão registaram um aumento salarial de 86% nos anos seguintes à conclusão-, mas também o equilíbrio de género do nosso corpo docente.”
De realçar, a classificação de alguns dos principais parceiros internacionais da Católica Porto Business School, nomeadamente no âmbito dos Mestrados (Double Degrees), do MBA Executivo e dos Programas de Formação Executiva, como a ESADE (Espanha); a Neoma e a Kedge (França), a WU – Vienna University of Economics and Business (Áustria); a Luiss (Itália), a Aston e Lancaster (Reino Unido).
CATÓLICA-LISBON
A Católica Lisbon School of Business & Economics foi a primeira business school portuguesa a integrar este ranking e nele figura de forma consistente em posições cimeiras desde 2012. Este ano ocupa a 22ª posição, a mesma do ano passado, que é simultaneamente a melhor posição de sempre neste grupo de escolas líderes. Em apenas quatro anos, a Escola subiu 10 lugares – do 32.º para o 22.º lugar.
Filipe Santos, dean da Escola, explica a conistência dos resultados: “É um testemunho do talento e dedicação dos nossos estudantes, alumni, corpo docente e staff. A CATÓLICA-LISBON, é hoje um hub de atração de talento de docentes e alunos de nível mundial, um gerador de conhecimento de ponta em economia e gestão, e uma rampa de lançamento para carreiras de sucesso com verdadeiro impacto na sociedade.
O dean dá os parabéns à escola irmã, Católica Porto Business School e à Universidade Católica Portuguesa, que “celebra não apenas o facto de ter duas escolas de negócios entre as melhores da Europa, mas também o reconhecimento como Universidade Mais Empreendedora de Portugal, atribuído pela Start-up Portugal no Web Summit”. Filipe Santos alarga as felicitações a Portugal, que inclui nestes meandros nada menos do que seis escolas de negócios. “Deve ser motivo de satisfação para todos os portugueses e sinal da qualidade da formação em Gestão em Portugal. É um orgulho para a CATÓLICA-LISBON ter sido pioneira e líder deste processo de internacionalização das business schools”.
Universidade do Porto PBS/FEP
Faculdade de Economia do Porto e Porto Business School garantem à Universidade do Porto um lugar no grupo das melhores escolas de negócio europeias, pelo 13º ano consecutivo. Em 20125, a Universidade escalou 14 posições, ascendendo ao 39º lugar, na que foi a quarta maior subida do ranking Financial Times European Business Schools. A justificar esta subida estão os resultados da Porto Business School, nas categorias de Executive Education, onde ocupa a 33ª nos programas Custom e a 28ª posição em Open. No Executive MBA, a Escola mantém a 56ª posição e no International MBA é 39ª. Por sua vez, o Master in Management, da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, ocupa a 57ª posição.
“Estamos muito satisfeitos com estes resultados, que nos colocam entre as quatro escolas de negócios com maior subida de posições no ranking do Financial Times, que avaliou 100 instituições. Este reconhecimento reforça a nossa motivação para continuar a desenvolver soluções formativas inovadoras, alinhadas com as exigências do mercado global”, salienta José Esteves, dean da Porto Business School.
Para Óscar Afonso, diretor da Faculdade de Economia do Porto (FEP), este reconhecimento “destaca o nosso compromisso com a excelência académica, a inovação e o impacto global. Reflete o esforço coletivo de estudantes, docentes, colaboradores e alumni, bem como a sólida ligação aos stakeholders. Esta conquista inspira-nos a continuar a formar líderes, enfrentar os desafios globais e consolidar a FEP como uma referência de ensino e investigação, tanto a nível nacional como internacional”.
ISCTE
O Ranking Financial Times 2024 posiciona a Escola de Gestão do Iscte no Top 50 das melhores da Europa. “O resultado foi, em novo ano, muito bom. Sentimos orgulho por termos ajudado novamente a nossa Escola de Gestão a subir no ranking e a posicionar-se entre as melhores”, congratula-se José Crespo de Carvalho, presidente do Iscte Executive Education.
“No âmbito do que nos compete fazer, já tínhamos posicionado o Iscte Executive Education no Top 50 do mundo (combinando corporate e open programs) em Financial Times, assim como já tínhamos posicionado o nosso Executive MBA no top 100 do mundo em Financial Times. Isto dito, estamos a ajudar a nossa Escola a crescer e posicionar-se melhor em rankings. Assim, a nossa Escola de Gestão sobe e afirma-se, novamente, no ranking europeu como estando entre as 50 melhores escolas de Gestão da Europa (relembra-se que na Europa existem cerca de 3.000 escolas de gestão e no mundo cerca de 13.000 escolas de gestão)”, enquadra José Crespo de Carvalho.
O presidente do Iscte Executive Education enaltece os resultados alcançados pelas instituições de ensino nacionais que integram o ranking, referindo que “porque sempre temos os olhos nos nossos concorrentes, damos-lhes os parabéns e congratulamo-nos por, pela primeira vez, Portugal ter seis, e não as habituais cinco, Escolas de Gestão nacionais no ranking de Escolas de Gestão da Europa. Isso é muito bom para Portugal”.
“Contribuir para que a nossa Escola esteja entre as 50 primeiras da Europa é, para nós, Iscte Executive Education, o melhor apoio e contributo que podemos dar. Consideramos, pois, que o objetivo foi cumprido e que fizemos jus à qualidade que a formação de executivos tem junto do mercado interno e internacional para ajudar a conseguir este lugar para a Escola como um todo. Finalmente, uma palavra de agradecimento muito merecida para todas as empresas e participantes de formação de executivos que, ano após ano, confiam em nós e nos tornam sempre melhores”, conclui.
ISEG
O ISEG – Lisbon School of Economics and Management é, pelo terceiro ano consecutivo, reconhecido no prestigiado Financial Times European Business Schools Ranking 2024. Esta distinção coloca-o no restrito grupo das melhores escolas de negócios da Europa, reafirmando o seu compromisso com a formação de excelência e a criação de impacto em líderes, empresas e comunidades.
“Este reconhecimento é, essencialmente, a confirmação da qualidade de uma oferta que tem vindo a atrair os melhores alunos, em Portugal e um pouco por todo o mundo. Isto só é possível graças aos nossos alunos, docentes, parceiros e alumni que nos ajudam diariamente a construir este caminho”, afirma João Duque, presidente do ISEG.
Este resultado , salienta, reflete o “esforço contínuo de inovação e a qualidade académica” que têm marcado a história do ISEG, numa escola que combina tradição e modernidade para “formar líderes preparados para os desafios de um mundo global e em constante transformação”.
João Duque destaca ainda o desempenho do país: “É grato verificar que Portugal, este ano pela primeira vez com seis Escolas no ranking, continua a afirmar-se como um notável hub no ensino de Gestão”.
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Católica Porto Business School
Almerinda Romeira
Economistas e Engenheiros
António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas
Hoje, 00:08
Portugal precisa de um novo impulso, no âmbito desta tradição de convergência entre Economistas e Engenheiros, no sentido de introduzir de novo uma perspetiva estratégica na política industrial do País.
Na passada terça-feira, realizou-se no Salão Nobre do Instituto Superior Técnico, uma sessão de homenagem a Luís Mira Amaral, com a atribuição do título de “Economista Emérito”, pela Ordem dos Economistas. A esta homenagem associou-se, também, a Ordem dos Engenheiros, representada pelo seu Bastonário o Eng.º Fernando de Almeida Santos, com a entrega de uma placa alusiva, assinada pelos dois Bastonários. Contou ainda com a presença do Senhor Presidente da Assembleia da República, Dr. José Pedro Aguiar-Branco e do Senhor Ministro da Economia, Dr. Pedro Reis, que encerrou o evento.
A grande questão em debate, e que serviu de mote às diversas intervenções, foi a de saber quais os caminhos que a economia portuguesa deve seguir, num contexto de profundas transformações da economia global e, sobretudo, no contexto dos próprios desafios que se colocam à economia europeia, confrontada com crescimento medíocre, recessão na Alemanha, dificuldades orçamentais em França, gap tecnológico face aos Estados Unidos e à China, vulnerabilidades acentuadas no plano energético e no abastecimento de matérias-primas e outros elementos essenciais, para já não falar das tensões sociais crescentes, da guerra à porta e, agora, da eleição de Donald Trump.
Luís Mira Amaral (LMA) é engenheiro eletrotécnico de formação, tendo posteriormente obtido o grau de mestre em economia pela Universidade Nova de Lisboa, com uma dissertação significativamente intitulada “Elasticidade Procura-Preço dos combustíveis em Portugal”, a que se seguiram pós-graduações na Universidade de Stanford e no INSEAD. Tem vários trabalhos publicados, nos domínios da economia da energia, economia industrial e da gestão, sendo ainda um interventor de referência na comunicação social sobre questões relacionadas com estas matérias.
Foi Ministro do Trabalho e Segurança Social (1985-87) e depois Ministro da Indústria e Energia (1987-95). E foi responsável pelo lançamento dos PEDIP I e II, do Relatório Porter, da AutoEuropa, entre outros projetos, que tiveram impacto muito significativo na estrutura industrial e na economia do País. É membro das duas Ordens Profissionais, integrando os respetivos órgãos sociais.
Engenheiro-Economista, ou Economista-Engenheiro, consoante as perspetivas, importa dizer que LMA se insere numa tradição que terá sido iniciada, ainda no século XIX, com Fontes Pereira de Melo, Engenheiro formado na Escola do Exército, enquanto ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria. Um ministério por ele criado em 1852, e que teve um papel fundamental no desenvolvimento infraestrutural, económico e industrial do País, no quadro da chamada Regeneração.
Uma linha que será retomada, já na segunda metade do século XX por José Ferreira Dias, igualmente Engenheiro Eletrotécnico, Professor no Técnico, Bastonário da Ordem dos Engenheiros, entre 1945 e 1947, primeiro como Subsecretário de Estado do Comércio e Indústria, nos anos 40, e depois, como Ministro da Economia, entre 1954 e 1962 e que, nestas responsabilidades, teve também um papel decisivo no desenvolvimento industrial e económico, particularmente através da infraestruturação elétrica do País de que foi grande impulsionador.
Portugal precisa de um novo impulso, no âmbito desta tradição de convergência entre Economistas e Engenheiros. De juntar esforços no sentido de introduzir de novo uma perspetiva estratégica na política industrial do País, orientada para o impulso tecnológico, o reforço estrutural e a produção de valor acrescentado.
António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas
Hoje, 00:08
António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas