Xanax e Os Velhos do Restelo
Joana Santos Silva, Professora do ISEG Executive Education e Diretora de Inovação
Hoje, 00:08
Existe uma correlação entre a incidência da ansiedade e a precaridade do trabalho. Trabalhos com salários baixos, de vínculo incerto e sem proteção adequada, aumentam a ansiedade.
Na semana passada cruzei-me com o vídeo de um americano que conjeturava como explicar por que razão os portugueses são “o povo mais ansioso do mundo”. A teoria termina com algo relacionado com a emigração massiva ao longo de centenas de anos, que acabou por fazer uma seleção artificial, em que o grupo populacional mais avesso ao risco (Os Velhos do Restelo) terá ficado por terras lusas e o grupo mais aventureiro terá saído do país.
Adoro teorias fora da caixa, mas um tema tão complexo como a incidência da ansiedade numa sociedade, dificilmente terá uma relação única de causa /efeito. Não quero dissecar a teoria do autor, mas antes levantar uma questão que ainda é objeto de forte estigma social, que é a saúde mental no nosso país.
Se o leitor tiver dúvidas sobre se Portugal padece de um nível de ansiedade generalizado, infelizmente, vários indicadores atestam isso mesmo. De acordo com a SPPSMP, Portugal é o segundo país com a mais elevada prevalência de doenças psiquiátricas da Europa. A ansiedade é a doença mais prevalente, afetando 16,5% da população.
Portugal também é o terceiro país do mundo com maior consumo de benzodiazepinas, sendo que o preferido dos lusitanos é o Xanax. Como tudo na vida, não existem soluções fáceis e o uso abusivo e prolongado destes medicamentos tem efeitos adversos ao nível da memória, atividade psicomotora e capacidade de concentração.
Ora, se concordam que somos ansiosos (mesmo que não sejamos o líder do pódio), o que pode originar este flagelo social? Assumindo que este problema será de natureza complexa e multivariável, vou propor adicionar um conjunto de variáveis explicativas.
O autor mencionado descartou de forma sumária a questão da precaridade económica e a solidão, mas creio que ambos têm um peso elevado na ansiedade portuguesa (e não só).
Existe uma correlação entre a incidência da ansiedade e a precaridade do trabalho. Trabalhos com salários baixos, de vínculo incerto e sem proteção adequada, aumentam a ansiedade.
Atualmente, o INE estima que 18% do total de trabalhadores por conta de outrem têm vínculos precários. Portugal perdeu 128 mil trabalhadores com curso superior em apenas um ano, mas acho que isto está mais associado às condições de trabalho do que propriamente à propensão ao risco e, consequente, nível mais baixo de ansiedade.
A ideia de que Portugal é um país com fortes laços sociais e inclusão também pode ser uma visão romântica do autor da teoria proposta. Um estudo do SNS sobre solidão em Portugal afirma que quase 10% da população entre os 50-64 anos de idade, e 26,8% dos indivíduos com mais de 85 anos sofre de solidão e isolamento social. Fatores como a pobreza, a diminuição do estado de saúde, a arquitetura residencial, a violência, entre outros, aumentam o risco de isolamento e de solidão.
Estamos piores que Espanha, Holanda, República Checa, Croácia e Áustria, ou seja, não é de todo óbvio que a solidão não contribua para a generalização da ansiedade na nossa sociedade. Assim, e não querendo ser Velho do Restelo, tomamos muito Xanax não apenas devido a uma seleção genética artificial, mas também por um conjunto de outros fatores que merecem uma análise cuidada.
Vejo a saudade como um bem cultural precioso, já a ansiedade precisa de ser erradicada. Mantemos a saudade e o futebol, mas temos de combater a ansiedade que não é um “problema português”.
Joana Santos Silva, Professora do ISEG Executive Education e Diretora de Inovação
Hoje, 00:08
Joana Santos Silva, Professora do ISEG Executive Education e Diretora de Inovação
América: Quo Vadis?
António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas
Hoje, 00:07
Num momento em que o mundo erigido após a Segunda Guerra Mundial parece estar a desmoronar-se, esperar-se-ia que a Nação-líder do chamado mundo ocidental, pudesse constituir uma referência sólida e estável para a procura de novas soluções.
Quando estas palavras foram escritas ainda não se sabia o resultado das eleições americanas. Independentemente do desfecho, estas eleições não podem ser consideradas umas eleições normais.
O que está em causa não é uma simples escolha democrática entre candidatos. Mas o próprio devir das relações internacionais nos próximos tempos e talvez a entrada numa nova etapa da relação dos Estados Unidos com o Resto do Mundo.
Logo à partida, não me parece normal o modo como o partido democrático pareceu, em todo o processo eleitoral, ser mais arrastado pela evolução da situação do que por um projeto refletido de gestão interna e de relacionamento internacional.
Também o comportamento do partido republicano, liderado por Trump, pareceu ser mais um projeto de subversão completa do sistema político americano, tentando afirmar uma posição fortemente nacionalista e tendencialmente isolacionista, que remete para a situação anterior à segunda guerra mundial.
As duas candidaturas, no confronto que tiveram para ganhar o eleitorado, também não se preocuparam, em explicitar os seus projetos e propostas, nem as diferenças que os separavam, antes explorando à exaustão as características pessoais dos candidatos.
Tudo isto, não pode deixar de ser considerado muito preocupante para o “Resto do Mundo”, quando se vive uma época de elevada instabilidade económica, política, institucional e, também, de confronto militar que poderá conduzir a uma crise geral de grandes dimensões. A este propósito não podemos deixar de nos preocupar seriamente com o modo como as instituições internacionais e o próprio Secretário-Geral das Nações Unidas têm sido sucessivamente desprestigiados e humilhados, nas suas tentativas frágeis de restabelecer plataformas de diálogo e de entendimento.
Num momento em que o mundo erigido após a Segunda Guerra Mundial – e que conduziu ao período mais longo de crescimento económico, de melhoria de condições de vida e de cooperação internacional, da História da Humanidade – parece estar a desmoronar-se, esperar-se-ia que a Nação-líder do chamado mundo ocidental, pudesse constituir uma referência sólida e estável para a procura de novas soluções.
Pelo contrário, a imagem que a América transmite ao mundo é a de uma potência que aposta, igualmente, na destruição do edifício anterior e na construção de um novo sistema em que as relações de respeito mútuo e de cooperação internacional sejam substituídas por relações simples de poder e de retorno à lei do mais forte.
Qualquer que seja o resultado das eleições americanas, a potência Europa tem pela frente um desafio notável – o de reforçar a sua identidade, a sua posição no mundo e de dar resposta às suas fragilidades e vulnerabilidades. Um desafio que foi colocado de forma nua e crua pelo recente Relatório Draghi.
António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas
Hoje, 00:07
António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas
Este é um orçamento mais enxuto, mas que não premeia a ambição
“Relançar a economia e reformar o Estado”: o secretário de Estado Adjunto e do Orçamento deixou o repto na conferência do JE e da EY. João Duque espera para ver os novos capítulos da novela OE e Pedro Brinca lamenta que o país “não premeie a ambição”.
Na semana em que o Parlamento iniciou a discussão do OE, o secretário de Estado Adjunto e do Orçamento, José Maria Brandão de Brito, destacou na conferência do JE e da EY (que se realizou no ISEG em Lisboa) que a proposta de lei para o OE2025 não prevê qualquer aumento de imposto.
“Este OE não aumenta qualquer imposto, nem a prática costumeira de aumentar os Impostos Especiais sobre o Consumo à taxa de inflação”, disse José Maria Brandão de Brito na conferência “Orçamento do Estado 2025”. O governante defendeu que “este é um Orçamento bom para o país, para relançar a economia e reformar o Estado, realçando que a expetativa do Executivo “é que venha a ser aprovado”, Para José Maria Brandão de Brito, o OE é um “momento estruturante da ação governativa e nesta proposta foi procurando eliminar as normas cavaleiras orçamentais, legislação que pouco ou não nada tem a ver com o OE, exclusão de normas pragmáticas. Este é um documento mais enxuto, mais transparente”.
José Maria Brandão de Brito diz que a proposta de OE consubstancia as três chaves-mestras do projeto político do Governo: alívio fiscal das empresas e famílias, incentivos empresas e ação social dos mais desfavorecidos. Olhando para os grandes números do OE2025, destacou que o crescimento vai ser de 1,8% em 2024, com saldo orçamental de 0,4% do PIB e dívida de 95,9%. Já para 2025, o governante prevê uma “aceleração económica com base na aceleração do consumo privado e do investimento para 2,1%, estimativa conservadora, o FMI tem uma projeção de 2,3% e o CFP de 2,4%”. Prossegue assinalando o saldo orçamental de 0,3% do PIB para 2025, “uma margem de segurança” que, frisa, corporiza o que é o primado deste Governo, o país tem demasiados desafios para ter superavits isolados”. E destaca a dívida a descer para 93,3%, “prolongando a trajetória virtuosa da redução”.
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André Cabrita-Mendes
Shein e Temu: o desafio dos preços baixos na ´peak season´
Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG
Hoje, 00:06
Campanhas de sensibilização que promovam o consumo consciente podem incentivar os consumidores a considerar não só o preço, mas também o impacto das suas compras.
À medida que se aproxima a peak season – o período da Black Friday e das compras de Natal – as plataformas Shein e Temu consolidam-se como forças no mercado europeu, cativando consumidores com uma oferta irresistível: moda e uma variedade de outros produtos a preços baixíssimos. Com a inflação a afetar os orçamentos familiares, o apelo de descontos agressivos torna-se ainda mais forte, especialmente numa altura em que 43% dos consumidores europeus dizem estar mais sensíveis ao preço, segundo a McKinsey.
A Shein, especialista em fast fashion digital, e a Temu, com uma vasta gama de produtos, têm vindo a expandir-se rapidamente. Dados da Euromonitor mostram que, em 2023, a Shein capturou 28% do mercado de moda online nos EUA e está agora a crescer na Europa, onde consumidores procuram alternativas económicas. Durante a Black Friday e a época natalícia, o impacto destes preços baixos é ainda mais intenso, pois as campanhas de descontos no digital apelam aos consumidores a fazerem compras significativas com menores custos.
A estratégia de social commerce que impulsiona estas plataformas, muito popular na China, combina redes sociais e e-commerce. Este modelo permite capitalizar nas interações sociais, com influência de recomendações e transmissões ao vivo. A Shein e a Temu usam algoritmos para identificar e responder rapidamente a tendências, apresentando novos produtos em questão de dias. Na Europa, esta abordagem encontra terreno fértil, especialmente entre os mais jovens, para quem as redes sociais são um ponto de referência para compras.
O impacto do “social commerce” aumenta nesta época alta de consumo, com a Shein e a Temu a ganharem vantagem sobre os retalhistas tradicionais. Segundo a PwC, 39% dos consumidores europeus planeiam fazer a maioria das suas compras de Natal online, um dado que reforça a pressão sobre as empresas locais para competirem com as gigantes digitais. Contudo, o modelo destas plataformas low-cost suscita preocupações sobre práticas laborais e de sustentabilidade. Enquanto as empresas europeias enfrentam regulamentos rigorosos, as plataformas chinesas beneficiam de menos restrições, criando uma concorrência desleal.
Para os retalhistas europeus, uma forma de enfrentar esta competição passa por investir em diferenciação, destacando produtos com qualidade e sustentabilidade, de modo a atrair consumidores que valorizem o impacto ambiental e social das suas escolhas. Adotar práticas de “social commerce” também pode ajudar, permitindo um contacto mais próximo com o cliente e aumentando a sua ligação com a marca.
Os reguladores europeus também têm um papel importante a desempenhar. Medidas como reforçar a fiscalização das importações e estabelecer normas de sustentabilidade ajudam a equilibrar o mercado. Campanhas de sensibilização que promovam o consumo consciente podem incentivar os consumidores a considerar não só o preço, mas também o impacto das suas compras.
Nesta época alta, o desafio de enfrentar o apelo das ofertas da Shein e da Temu depende de uma resposta coordenada entre empresas, reguladores e consumidores. A capacidade de adaptação e diferenciação dos retalhistas europeus, aliada a uma regulamentação mais justa e à educação do consumidor, será essencial para enfrentar a pressão destas plataformas na Europa.
Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG
Hoje, 00:06
Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG
O Nobel da Economia e as instituições de Bretton Woods
António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas
Hoje, 00:08
As instituições são importantes e moldam o curso das dimensões em que atuam. Mas é importante não esquecer que de dinamizadoras se podem transformar em bloqueadoras do progresso.
A justificação apresentada pela Academia de Ciências, para a atribuição do Nobel da economia a Acemoglu, Johnson e Robinson, fundamenta-se no contributo que, em conjunto, deram para a compreensão de como as instituições se formam e desenvolvem e neste processo afetam a produção de prosperidade e a desigualdade económica entre países. Um trabalho que tem como referência seminal o artigo de 2021, “The Colonial Origins of Comparative Development: An Empirical Investigation”, The American Economic Review, Vol. 91, nº 5.
Coincidentemente, ou talvez não, em 2024 comemoram-se os 80 anos do início da Conferência de Bretton Woods (1 de julho de 1944) que criou o sistema de instituições monetárias e financeiras (FMI e Banco Mundial) que haveriam de suportar a reconstrução da economia mundial no período do pós-segunda guerra mundial.
O FMI e o Banco Mundial decidiram, neste contexto, criar um grupo de reflexão, conjunto, com o objetivo de explorar a evolução da economia global num horizonte de 20-30 anos e, principalmente, o papel que o Banco e o Fundo poderão desempenhar.
Sem dúvida, um objetivo nobre que deverá ser acompanhado com todo o interesse. E as análises dos recentes nobelizados não poderão deixar de constituir uma referência para a discussão das reformas que as velhas instituições deverão incorporar por forma a estarem à altura dos novos desafios que já se colocam e perspetivam para a economia global.
Bretton Woods, constituiu, sem dúvida um salto imenso no plano das organizações de cooperação económica internacional e permitiu reconstruir e dinamizar a economia internacional. Foi um período em que as fortes taxas de crescimento do PIB, permitiram acomodar a elevação dos rendimentos e a formação de largas camadas médias que sustentaram a democracia e a exportação do chamado modelo ocidental para as diferentes partes do globo, muitas delas em processos de afirmação de independência das antigas potências colonizadoras.
Mas os efeitos foram-se esgotando, sobretudo a partir do final dos anos 60, onde a hegemonia do dólar entrou em crise, precisamente em resultado da incapacidade de se proceder aos ajustamentos necessários. Em agosto de 1971, o Presidente Nixon suspendia a convertibilidade-ouro do dólar, pedra base do sistema monetário internacional, pondo unilateralmente fim ao sistema de Bretton Woods e conduzindo à primeira grande crise económica internacional do pós-guerra, detonada pela decisão da OPEP de subida dos preços do petróleo, na sequência da guerra do Yom Kypur de 1973. Uma crise cujos efeitos não se deixaram de prolongar até aos nossos dias.
Sem dúvida que as instituições são importantes e moldam o curso das dimensões em que atuam. Mas é importante não esquecer que de dinamizadoras se podem transformar em bloqueadoras do progresso e é necessário um permanente esforço de ajustamento à evolução dos novos contextos e necessidades.
Em última análise, a qualidade das instituições depende da qualidade das pessoas que as enformam.
António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas
Hoje, 00:08
António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas
Portugal precisa de doutores e não de "doutores"
Joana Santos Silva, Professora do ISEG Executive Education e Diretora de Inovação
Hoje, 00:05
Precisamos de mais pessoas formadas, com níveis de formação superior e com uma qualidade de educação robusta e séria, que entregue as competências necessárias para que o país e os indivíduos possam ser competitivos.
Ultimamente, tenho-me cruzado com diversos comentários a respeito das competências dos alunos portugueses. Um destes dias, cruzei-me com um artigo que alegava que muitos alunos do 10º ano não sabem interpretar o horário do autocarro. Fiquei ainda mais espantada quando li inúmeros comentários a troçar de detentores de licenciatura e mestrado, assumindo que os mesmos teriam capacidades intelectuais mínimas. Ora, num país com todas as fragilidades que são conhecidas e que tem perdido, em muitas áreas, tração e competitividade face a muitos dos pares europeus, uma das poucas de que nos podemos orgulhar é do salto qualitativo e quantitativo na educação da população portuguesa.
Estou saturada de ouvir que “antigamente” é que se aprendia matemática e português. Pois não é facto. Concretamente, Portugal é o país da Europa com o maior fosso intergeracional nos níveis de qualificação da população ativa (29% vs. 7,9% na UE). E, apesar de termos tido francas melhorias na educação, ainda há muito para fazer, ou seja, é preciso continuar a incentivar a educação e formação avançada e não denegrir e menorizar os indivíduos que se esforçam e completam níveis superiores de qualificação.
Infelizmente, ainda em 2021, 6% dos jovens portugueses entre os 18 e 24 anos não completaram o ensino secundário. Ora, o futuro das nações dependerá sempre da qualidade do “software” da população, ou seja, das suas capacidades intelectuais. Se, enquanto povo, não respeitarmos e reconhecermos o valor da educação e formação, dificilmente continuaremos a melhorar nestes indicadores.
Isto vê-se refletido no investimento em formação formal ou informal ao longo da vida. Em 2022, apenas 44,2% da população adulta em Portugal participou numa atividade de educação e formação, o que continua abaixo da média de 46,6% da UE. Num país em que 47,8% dos adultos não terminaram o ensino secundário (mais do dobro da média europeia, 21,6%), é triste observar tanta soberba a respeito das capacidades alheias.
Parece que somos exemplo vivo do Efeito Dunning-Kruger, que é um viés cognitivo pelo qual pessoas com pouca ou nenhuma competência ou conhecimento tendem a sobrestimar as suas capacidades. Aliás, por sabermos tão pouco é que podemos ter uma autoavaliação tão desviada da realidade…
Em conclusão, o que precisamos é de mais pessoas formadas, com níveis de formação superior e com uma qualidade de educação robusta e séria, que entregue as competências necessárias para que o país e os indivíduos possam ser competitivos. O que menos precisamos é de “doutores” de café, que assumem que sabem mais simplesmente porque sabem pouco.
Vamos corrigir as prioridades e reconhecer o que é realmente de valor. Citando Nelson Mandela: “A educação é a arma mais poderosa que podemos usar para mudar o mundo.”
Joana Santos Silva, Professora do ISEG Executive Education e Diretora de Inovação
Hoje, 00:05
Joana Santos Silva, Professora do ISEG Executive Education e Diretora de Inovação
Procrastinação
António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas
Hoje, 00:09
O termo, em traços diretos, significa adiamento sistemático de decisões que são necessárias. O que, infelizmente parece ser uma prática comum, não só em Portugal, mas também na Europa.
Na apresentação do seu Relatório sobre o futuro da competitividade europeia, Mario Draghi afirma, sem qualquer preocupação de dourar a pílula, que a Europa deve abandonar a ilusão de que só a procrastinação pode preservar o consenso. E diz mesmo mais, que a procrastinação apenas produziu menor crescimento e nenhum consenso adicional.
Num contexto em que se vem afirmando uma tendência para o baixo crescimento na Europa, uma perda acentuada de dinâmica da produtividade e, sobretudo uma incapacidade de acompanhar o progresso tecnológico de ponta, comparativamente ao seu aliado do outro lado do atlântico e à China, estas palavras devem ser compreendidas em todas as suas implicações, particularmente vindas de alguém que tem a seu crédito – e não corremos qualquer risco de exagerar – a salvação do projeto do euro, num contexto em que tudo se estava a encaminhar para uma implosão da Europa em resultado da cega e contra apropriada política económica restritiva, particularmente no contexto das políticas orçamentais.
Mario Draghi esteve para a política económica europeia recente, como Marriner Eccles esteve para a política económica americana, nos anos 30 do século passado, quando o sistema económico e financeiro quase soçobrava na sequência das más políticas, igualmente restritivas, adotada pelos responsáveis económicos da altura, ainda resultantes do governo do Presidente Herbert Hoover (1929-1933).
Hoover perde as eleições para Roosevelt em 1932 e um novo paradigma económico emerge onde Eccles, chamado para liderar o banco central americano, tem um papel decisivo na elaboração de uma nova política económica anti recessiva e expansionista – o famoso New Deal – antecipando, na prática, a futura teoria Keynesiana. Um novo paradigma que, não só conseguiu dar resposta imediata aos efeitos dramáticos da crise dos anos 30, como, inclusive, prolongar-se na arquitetura de todo o sistema monetário e financeiro de Bretton Woods – onde Eccles, igualmente, teve um papel determinante – que iria marcar a recuperação e a expansão da economia mundial no período do pós-guerra, até ao início dos anos 70, quando outra crise de grandes proporções se manifesta.
Com a chamada política monetária não-convencional, Draghi recupera, de certa maneira, as grandes ideias de política monetária postas em prática por Eccles e, também como este seu antecessor, está agora na origem de uma proposta de um novo paradigma para a Europa que pretende ser uma resposta sustentada e coerente aos desafios que as transformações em curso na economia global colocam. Não apenas no plano interno, mas também no relacionamento da Europa com o novo mundo que se está a afirmar.
Não é agora que iremos discutir as medidas propostas por Draghi, o que deixaremos para outra oportunidade. Queremos apenas chamar a atenção para a importância do termo usado no Relatório para caracterizar a atitude da Europa face à gravidade da situação: procrastinação.
O termo, em traços diretos, significa adiamento sistemático de decisões que são necessárias. O que, infelizmente parece ser uma prática comum, não só em Portugal, de que o caso do Novo Aeroporto de Lisboa será o exemplo mais paradigmático, mas também na Europa no seu conjunto que, nas duas ou três últimas décadas, como enfatiza Draghi, se tem limitado a gerir consensos, recusando-se a procurar soluções estruturais que implicam a adoção de uma perspetiva de médio e longo prazo.
É caso para dizer, “A Europa connosco”… na procrastinação!
António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas
Hoje, 00:09
António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas
A inovação em produtos "made in Portugal"
Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG
Hoje, 00:06
Em Portugal, várias marcas têm demonstrado que a inovação pode ser o motor para o reconhecimento internacional e o aumento das vendas.
Num mercado cada vez mais competitivo e global, a inovação é fundamental para garantir o sucesso das empresas. Apostar na criação de novos produtos ou na melhoria dos existentes é uma das formas mais eficazes de se diferenciar da concorrência e criar vantagens competitivas sustentáveis. Em Portugal, várias marcas têm demonstrado que a inovação pode ser o motor para o reconhecimento internacional e o aumento das vendas.
A Delta revolucionou o consumo de café com o sistema Delta Q, introduzindo cápsulas compatíveis que oferecem uma experiência de café de alta qualidade em casa ou no trabalho. Esta inovação permitiu à Delta competir com marcas internacionais e expandir-se para novos mercados, consolidando a sua liderança.
No setor da mobilidade, a Via Verde transformou a experiência de pagamento nas portagens, evoluindo de um sistema exclusivamente dedicado a autoestradas para uma solução de mobilidade completa. Com a introdução de serviços como pagamento de parques de estacionamento, abastecimento de combustível e até drive-thru, a Via Verde tornou-se uma referência em inovação, facilitando a vida dos utilizadores e promovendo a mobilidade inteligente.
Na moda, a Salsa destacou-se com os jeans Push-Up, que realçam a silhueta feminina. Esta inovação tecnológica e de design conquistou consumidores globais, ajudando a marca a expandir-se internacionalmente e a posicionar-se como líder em jeans de moda.
A Renova inovou ao lançar o Renova Black, o primeiro papel higiénico negro do mundo, transformando um produto comum num artigo premium e surpreendendo o mercado. Esta criatividade ajudou a marca a destacar-se e a tornar-se reconhecida globalmente, criando até uma nova categoria de produto.
No setor das bebidas, a Compal lançou a gama Compal Origens, promovendo frutas portuguesas com sabores únicos e embalagens diferenciadas. Esta aposta valorizou a agricultura nacional e reforçou a liderança da marca no mercado de sumos, projetando a imagem de Portugal como um produtor de excelência.
Estes exemplos mostram que a inovação em produtos é essencial para criar diferenciação e vantagem competitiva, mesmo em setores já estabelecidos. Estas marcas portuguesas provam assim que é possível conquistar o mercado global apostando em produtos únicos e de qualidade. Investir em inovação é crucial para alcançar novos mercados, fidelizar consumidores e fortalecer a posição competitiva das empresas.
Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG
Hoje, 00:06
Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG
Cegid promove debate de gestores financeiros para falar do poder da IA
A Cegid considera a IA um “suporte essencial para uma tomada de decisão assertiva, rápida e rigorosa; bem como um importante aliado na gestão de processos internos, documental, consolidação de contas ou reporting financeiro e fiscal”
A Cegid considera a IA um “suporte essencial para uma tomada de decisão assertiva, rápida e rigorosa; bem como um importante aliado na gestão de processos internos, documental, consolidação de contas ou reporting financeiro e fiscal”.
A Cegid, empresa especializada em soluções de gestão na cloud para profissionais das áreas financeira (tesouraria, fiscalidade e ERP), recursos humanos (processamento salarial e gestão de talento), contabilidade, retalho e empreendedorismo, vai reunir a 1 de outubro, na Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, em Lisboa, várias centenas de gestores e responsáveis financeiros de empresas, no evento “Cegid Connections para Financeiros”.
João Duque, presidente e professor catedrático do ISEG, Instituto Superior de Economia e Gestão de Lisboa, é o principal orador e a iniciativa tem como objetivo partilhar conhecimento e troca de ideias sobre as últimas tendências e boas práticas de gestão financeira associadas à utilização de inteligência artificial. A Cegid considera a IA um “suporte essencial para uma tomada de decisão assertiva, rápida e rigorosa; bem como um importante aliado na gestão de processos internos, documental, consolidação de contas ou reporting financeiro e fiscal”.
O Cegid Connections para Financeiros contará ainda com a intervenção de Pedro Vale, VP Engineering for AI, Data and Frameworks da Cegid, que irá demonstrar de que forma a Cegid irá potenciar o melhor da Inteligência Artificial ao serviço dos gestores e diretores financeiros, dotando-os de ferramentas preditivas que apoiam nas suas tomadas de decisões.
Maria Teixeira Alves
Ensino Superior: nova era, novas tendências
Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG
Hoje, 00:12
O aumento de interesse por áreas tecnológicas de ponta não é apenas um reflexo das mudanças na economia global, mas também uma indicação das aspirações de uma nova geração de jovens.
As escolhas dos estudantes que ingressam no ensino superior em Portugal refletem novas tendências. Depois de muitos anos com medicina no topo das preferências, eis que o Top 5 de cursos com média mais alta de entrada (tendo por base o numerus clausus) estão três cursos de Engenharia Aeroespacial. Deste top fazem também parte Ciência de Dados e Inteligência Artificial e Matemática aplicada à Gestão.
Este aumento de interesse por áreas tecnológicas de ponta não é apenas um reflexo das mudanças na economia global, mas também uma indicação das aspirações de uma nova geração de jovens que estão a olhar para o futuro com uma perspetiva inovadora e ambiciosa.
Um dos exemplos mais marcantes desta mudança é mesmo o curso de Engenharia Aeroespacial, que abriu pela primeira vez na Universidade do Porto com 30 vagas e atingiu uma nota mínima de entrada de 19,45 valores.
Este fenómeno ilustra a crescente atração dos estudantes por setores que envolvem exploração espacial e tecnologias avançadas, áreas que, apesar de serem promissoras, ainda enfrentam limitações significativas no mercado de trabalho nacional.
A procura por estes profissionais ainda não acompanha o ritmo de formação, o que leva muitos recém-licenciados a procurar oportunidades fora do país, onde a valorização e a remuneração por estas competências são superiores.
Esta tendência de emigração, impulsionada pela falta de um mercado robusto e diversificado em Portugal, representa um desafio significativo para o país. Se, por um lado, o interesse crescente por estas áreas revela uma geração de jovens altamente qualificados e preparados para enfrentar os desafios do futuro, por outro lado, a falta de oportunidades no mercado de trabalho nacional pode resultar numa perda significativa de talento, com consequências a longo prazo para a economia e a inovação nacional.
Para inverter esta situação, é essencial que Portugal invista não só na formação de alta qualidade, mas também na criação de um ecossistema económico capaz de absorver estes talentos. A aposta em parcerias com empresas tecnológicas, incentivos à inovação e ao empreendedorismo, e o desenvolvimento de políticas que atraiam investimento estrangeiro podem ser caminhos para garantir que os jovens qualificados não tenham de procurar fora do país as oportunidades que desejam. Somente assim será possível assegurar que o futuro que os estudantes procuram se constrói em Portugal.
Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG
Hoje, 00:12
Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG