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´Greenwashing´: não vale tudo!

Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG Hoje, 00:09 O atual processo de desinformação anula uma força motriz importante que poderia levar as marcas melhorar o seu desempenho. O mercado tem sido inundado por uma grande variedade de produtos com apelos ecológicos. Contudo, mais de 95% dos produtos existentes no mercado que se autoproclamam como produtos sustentáveis não o são verdadeiramente, é a conclusão de um estudo elaborado pela Terra Choice. Muitas empresas começaram a desenvolver ações de marketing para promover o seu compromisso com a sustentabilidade. Porém, algumas têm feito autênticas autodeclarações dos seus produtos abusando de expressões como “ecológico”, “amigo do ambiente”, “natural”, “orgânico”, etc., estando longe de cumprir o seu compromisso genuíno com a sustentabilidade. Greenwashing é o termo utilizado para descrever esta prática levada a cabo por empresas e organizações que se aproveitam do tema da sustentabilidade para fins meramente lucrativos. Por outras palavras, aquilo que deveria ser um compromisso com a sustentabilidade acaba por se tornar em ações de greenwashing. A comunicação de produto tem vindo a contribuir negativamente, destacando atributos que não são verdadeiramente sustentáveis. Estas mensagens fraudulentas têm o potencial de prestar um enorme descrédito à causa da sustentabilidade, pois confundem os consumidores gerando ceticismo. Este processo de desinformação anula uma força motriz importante que poderia levar as marcas melhorar o seu desempenho. Na tentativa de minimizar o greenwashing, a consultora Futerra lançou o “Greenwash Guide”, que consiste em elencar sinais a que os gestores e marketeers devem estar despertos, como evitar linguagem evasiva composta por termos e palavras sem significado expresso, por exemplo: “amigo do ambiente”; não utilizar imagens sugestivas como as de natureza que remetem para um impacto ambiental mínimo mas fora do contexto do produto; não enfatizar atributos irrelevantes do produto, isto é destacar um específico relacionado com o ambiente, mas ignorando todos os outros que o compõem; evitar a utilização de especificações demasiado técnicas que só um cientista pode verificar ou compreender; verificar a veracidade das certificações e alegações ambientais e garantir a credibilidade e as provas das mensagens que se comunicam numa ótica de transparência. Em síntese, é essencial para as empresas que pretendam desenvolver uma estratégia e um compromisso genuíno com a sustentabilidade o desenvolvimento de uma cultura empresarial que valorize o tema. É o momento certo para as empresas repensarem os seus planos de negócio, o desenvolvimento de novos produtos, reinventar a capacidade de criar valor para a empresa e uma fonte de vantagem competitiva para o negócio. Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG Hoje, 00:09 Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG

A minha médica também pode usar biquíni

Joana Santos Silva, Professora do ISEG Executive Education e Diretora de Inovação

Hoje, 00:10

Ainda temos tanto para fazer na luta pela igualdade de género, e começa desde logo com a avaliação de comportamentos normais não serem alvo de “estudo” e crítica por parte da sociedade.

Hoje, há quem afirme que a igualdade de género está atingida. Aliás, há ainda a tendência de assumir que o desafio da igualdade de género é convencer pessoas menos sofisticadas e eventualmente menos educadas a respeito do reconhecimento e valorização de mulheres nos vários domínios da sociedade.

Ora, esta afirmação não podia estar mais longe da verdade. Se porventura foram impactados com um movimento nas redes sociais designada de #medbikini, em que vários profissionais de saúde aparecem de fato de banho, estão a ser confrontados com uma resposta poderosa a um artigo que demonstra que a luta pela igualdade de género está longe de estar fechada.

O movimento terá tido início em resposta a um “estudo” de três autores do sexo masculino no Journal of Vascular Surgery intitulado “Prevalência de conteúdo não profissional em redes sociais entre jovens cirurgiãs vasculares.” O artigo baseava-se no estudo de perfis de redes sociais e tinha como objetivo rever e avaliar as publicações de jovens cirurgiãs terminando com conclusões a respeito de conteúdo “claramente não profissional” ou “potencialmente não profissional” que na maioria dos casos dizia respeito a fotos de biquínis ou fantasias de Halloween.

Para mim, o mais extraordinariamente escandaloso é o facto de, em primeiro lugar, os autores serem colegas, ou seja, médicos “educados” que presumem avaliar, sem autorização, um comportamento pessoal dos pares. Em segundo, o artigo foi publicado numa revista científica. Assim, não se trata apenas de uma ideia ignorante de três indivíduos, pois houve quem revisse o artigo “científico” e considerasse que o mesmo tinha mérito para ser publicado. Tal só comprova que a discriminação de género persiste em todos os níveis da sociedade e estamos muito longe de alcançar a igualdade.

Quando vivemos numa sociedade em que usar um biquíni é visto como uma atitude pouco profissional e que impacta negativamente a avaliação da competência de uma mulher, estamos ainda num mundo caracterizado por ignorância e discriminação.

Nesta área, Portugal também não se compara bem. Celebrámos recentemente o 25 de abril, que foi um marco importantíssimo para a melhoria dos direitos da mulher. Contudo, existem marcos que ainda hoje me espantam pela crueldade da lei em prática anterior. Só em 1975 foi revogado o artigo do Código Penal que permitia ao marido matar a sua mulher em flagrante adultério e a filha em flagrante corrupção! E até 1982, um marido que violasse a mulher não cometia qualquer crime!

Apesar de ter havido alguma convergência ascendente à média da União Europeia, Portugal encontra-se ainda no 15º lugar do Índice de Igualdade de Género da UE, com uma pontuação de 67,4, sendo a média da Europa é de 70,2.

Ainda temos tanto para fazer nesta área e começa desde logo com a avaliação de comportamentos normais não serem alvo de “estudo” e crítica por parte da sociedade. Porque ir à praia de biquíni não impacta nenhuma competência profissional que eu conheça… Ou seja, para mim é mais do que óbvio que a minha médica também pode usar biquíni!

Joana Santos Silva, Professora do ISEG Executive Education e Diretora de Inovação

Hoje, 00:10

Joana Santos Silva, Professora do ISEG Executive Education e Diretora de Inovação

Corte nos juros deixa poucos depósitos com retornos acima da inflação

Banca: Os bancos têm vindo a ajustar em baixa a remuneração das aplicações a prazo, antecipando o corte de juros do BCE. Apesar de a inflação esperada este ano ser inferior, obter um retorno real num depósito é cada vez mais difícil Os Certificados de Aforro roubaram o protagonismo dos depósitos a prazo na primeira metade do ano passado, mas desde o corte nas taxas que perderam atratividade junto das famílias portuguesas. As aplicações comercializadas pelos bancos voltaram a conquistar poupanças à boleia das taxas atrativas que, entretanto, estão a deixar de o ser. Os juros têm vindo a encolher e deverão continuar a descer nos próximos meses, dado o esperado corte de taxas por parte do Banco Central Europeu (BCE). Conseguir um retorno real, acima da inflação, é um desafio e vai sê-lo ainda mais daqui em diante. Os bancos, que automaticamente refletiram nos juros do crédito à habitação a subida das taxas do BCE, foram lentos no aumento dos juros dos depósitos a prazo. Acabaram por subi-los, também em reação à concorrência dos produtos do Estado, mas a taxa média apenas chegou aos 3,1% em dezembro de 2023. Desde então, a tendência tem sido de descida dos juros oferecidos neste que é o principal produto de poupança dos portugueses. De acordo com dados do Banco de Portugal, a taxa média caiu para 2,92% em janeiro, voltou a ceder para 2,81% em fevereiro e deverá continuar a baixar. Essa descida é percetível através da consulta dos sites e preçários de taxas de juro das várias instituições financeiras no mercado nacional. O Jornal Económico (JE) consultou a melhor oferta de um total de 16 bancos, considerando as propostas mais rentáveis a seis e 12 meses para aplicações com um investimento mínimo de, no máximo, 5.000 euros. No prazo mais curto, a 180 dias, são várias as ofertas entre os 3% e os 4%, neste caso pagos tanto pelo Banco BAI como pelo EuroBic, mas a 12 meses são cada vez mais raras as propostas acima da fasquia dos 3%, sendo a média das ofertas de pouco mais de 2,3%. Entre os maiores bancos do sistema, a Caixa Geral de Depósitos destaca-se pela positiva ao oferecer no Depósito Caixa Net 12 Meses Não Mobilizável uma Taxa Anual Nominal Bruta (TANB) de 2,75%, acima dos 2,5% praticados pelo BPI no DP BPI+, e bem superior aos 0,01% do Santander Portugal (que só apresenta taxas mais elevadas para montantes mínimos acima de 15.000 euros). Mas para ter taxas efetivamente atrativas, é preciso olhar para outras instituições, como é o caso do Banco BAI Europa, Banco Invest e EuroBic. Mas mesmo as melhores ofertas a 12 meses podem não ser rentáveis para a carteira dos aforradores. Para se perceber o que é um bom depósito é preciso ter em conta a taxa oferecida e compará-la com o aumento previsto do custo de vida, ou seja, a inflação que, depois de superar os 4% em 2023, deverá baixar este ano para 2,4%, de acordo com a mais recente previsão apresentada pelo Banco de Portugal. Considerando este patamar, dos 16 bancos analisados, nove oferecem taxas superiores, com o BAI Europa a destacar-se ao remunerar uma poupança de, no mínimo, 2.500 euros com uma taxa de 4%. “Com taxas de inflação abaixo de 3% já começam a ser interessantes os depósitos que pagam valores iguais ligeiramente superiores a este número”, afirma João Duque, economista e professor do ISEG, ao JE, notando, contudo, que “se tomarmos em consideração o imposto sobre os juros, a inflação terá que reduzir-se ainda mais para que possa ser compensada pelas remunerações atualmente pagas pelos bancos”. Considerando as taxas líquidas, assumindo que os aforradores são particulares, logo tributados à taxa liberatória de 28%, dos nove depósitos só dois são, efetivamente, uma boa opção para as poupanças. O BAI, com a taxa de 4% no Depósito a Prazo Premium EUR, e o Banco Invest, com o Invest Choice Novos Montantes, que apresenta uma TANB de 3,5%, são os únicos que pagam juros ao final de um ano que permitem compensar a inflação. De acordo com Filipe Garcia, economista da Informação de Mercados Financeiros (IMF), os depósitos “são, de momento, o produto possível para quem quer garantia de capital e alguma capacidade de mobilização”. Contudo, alerta que as “pessoas preocupam-se muito com as taxas de juro nominais e preocupam-se pouco com as taxas de juro reais”. Rita Atalaia

Shein e Temu: desafios para o retalho

Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG Hoje, 00:09 Além do (baixo) custo dos produtos, a Shein e a Temu ganharam impulso, aproveitando as tendências nas redes sociais, como o TikTok e Instagram. A Temu e a Shein crescem a olhos vistos e são um fenómeno de vendas online sem precedentes. No caso da Temu, o site e app prometem uma experiência online que permite aos clientes “comprar como um bilionário”, oferecendo produtos ultrabaratos numa ampla gama de categorias, incluindo moda, decoração, gadgets, eletrónica, entre outros. Comparativamente, a Shein cresceu até se tornar o maior retalhista de moda do mundo, com sede em Singapura. No seu site, a Shein refere-se a si própria como um “retalhista online global de moda e lifestyle” e vende em mais de 150 países. Ambas as empresas utilizam uma estratégia agressiva de marketing digital e vendem os seus produtos diretamente aos consumidores. A Temu opera como um mercado online, conectando clientes a milhões de fornecedores, fabricantes e marcas. Ao “formar parceria” diretamente com os vendedores, a Temu diz que tal lhes permite vender produtos a “preços de fábrica”, eliminando intermediários. A Shein também tem uma abordagem direta ao consumidor, que descreve como um modelo “sob procura” impulsionada pelos seus clientes. Trabalha com cerca de 5.400 fabricantes, principalmente da China, e ajusta a sua produção com base nos artigos mais populares entre os clientes, alegando que esta estratégia permite-lhe manter os preços baixos e reduz o excedente de produção. Ambas as empresas, no entanto, geraram controvérsia, e foram mesmo acusadas nos EUA de recorrer a trabalho forçado nas suas cadeias de fornecimento, algo que negam. O que é um facto é que ambas as empresas estão a colocar diversos desafios ao retalho em geral. Para muitas marcas de moda, por exemplo, não é possível competir com tops de três dólares ou sapatos de 13 dólares. Além do custo dos produtos, a Shein e a Temu ganharam impulso, aproveitando as tendências nas redes sociais, como o TikTok e Instagram. Hoje em dia, Shein é responsável por 42% dos produtos listados na hashtag #hauls do TikTok, de acordo com o WWD. Concluindo, a Shein e a Temu estão a revolucionar o mercado de retalho online com uma proposta de valor assente em preços ultrabaixos e promoção agressiva nas redes sociais. Tal faz com que muitos retalhistas tradicionais estejam a repensar os seus pontos diferenciação, que para fazer face à concorrência feroz destes novos concorrentes, passa pela comunicação do valor dos seus produtos numa lógica de qualidade-preço e de sustentabilidade numa lógica de médio-longo prazo. É um mercado que fervilha e em que muitas águas serão agitadas num futuro próximo. Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG Hoje, 00:09 Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG

50 anos do 25 de Abril, homenagem a um grande Economista

António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas Hoje, 00:16 Francisco Pereira de Moura foi uma referência intelectual e política, que influenciou sucessivas gerações de economistas, incluindo aqueles que estiveram ligados às grandes opções desenvolvimentistas e de abertura económica à Europa. No cinquentenário do 25 de Abril, prestamos homenagem a um dos principais responsáveis pela introdução da moderna macroeconomia em Portugal – Francisco Pereira de Moura. Nascido a 17 de abril de 1925, viria a falecer em 6 de abril de 1998, com 73 anos de idade, três meses antes da criação, a 2 de julho, da Ordem dos Economistas, cujas comemorações dos 25 anos decorrem até ao final de maio. Tomámos conhecimento, recentemente, através da sua filha mais velha, Emília Moura, de uma carta que o Prof. Pereira de Moura, na qualidade de membro do Colégio Eleitoral do Presidente da República, em 1965, enviou aos restantes membros desse Colégio dez dias antes da eleição, marcada para 25 de julho. Nessa carta eram discutidas as grandes questões da sociedade portuguesa de então, da legitimidade do sufrágio indireto, introduzido na sequência da candidatura do General Humberto Delgado nas eleições anteriores de 1958, à guerra colonial e as relações internacionais, passando pela liberdade política, a problemática social e a situação económica. É um texto notável, sobre a situação política do País. Um exemplo paradigmático de que a responsabilidade de um Economista exige uma dimensão social e ética que, no caso do Prof. Pereira de Moura, implicou sérios sacrifícios pessoais, familiares e profissionais que levaram, inclusive, à sua detenção e expulsão da Universidade, na sequência da vigília contra a guerra colonial, realizada na Capela do Rato, no final de 1972. Uma expulsão que só seria revertida, precisamente, na sequência do 25 de Abril, em 1974. Francisco Pereira de Moura foi uma referência intelectual e política, que influenciou sucessivas gerações de economistas, incluindo aqueles que estiveram ligados às grandes opções desenvolvimentistas e de abertura económica à Europa, nas décadas de 60 e 70 do século passado, com os chamados Planos de Fomento e que influenciaram as próprias ideias que conduziram ao 25 de Abril. Fez parte do primeiro, quarto e quinto governos provisórios, tendo contribuído para a normalização da vida política. Depois disso, regressou à vida académica, no ISEG, contribuindo decisivamente para o desenvolvimento científico e a internacionalização da sua Escola de sempre. Na situação complexa que o País atravessa, figuras como o Prof. Francisco Pereira de Moura continuam a ser uma referência. Desde logo para a intervenção dos Economistas, a quem se exige um esforço acrescido de rigor, competência e ética no exercício das suas responsabilidades profissionais. Mas, também, no plano da ação política, onde se requer capacidade de diálogo, de responsabilidade e de convergência no sentido do interesse público. António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas Hoje, 00:16 António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas

Mundo em mudança constante ou por defeito?

Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG Hoje, 00:12 Atualmente, é mais correto dizer que o mundo vive em regime de “mudança por defeito”. E porquê? Porque vivemos uma mudança incorporada no dia a dia. O mundo está em mudança constante, dizia-se com frequência. Hoje a expressão mais adequada para o que vivemos é: o mundo vive em regime de “mudança por defeito”. E porquê? Porque vivemos uma mudança incorporada no dia a dia e, como tal, a liderança corporativa vive já com esta variável no seu ADN. Em termos de evolução de paradigma passámos de um mundo VUCA para um mundo BANI. O VUCA surge em 1980, pautado pela Guerra Fria. O termo BANI começou a ser utilizado na pandemia, mas foi definido em 2018 por Jamais Cascio. BANI é o acrónimo de brittle (frágil), anxious (ansioso), non-linear (não-linear), incomprehensible (incompreensível). Partilho aqui alguns exemplos que ilustram o conceito BANI. Frágil: Os sistemas financeiros globais podem ser considerados frágeis, pois um evento inesperado pode levar a uma série de falhas e crises económicas em cascata. Outro exemplo são as cadeias de abastecimento em que perturbações como desastres naturais, problemas de transporte ou escassez de abastecimento podem causar o colapso de toda a cadeia, como vimos no caso do canal de Suez ou, mais recentemente, com a pirataria. Ansioso: A pandemia destacou a natureza ansiosa dos sistemas de saúde globais. A rápida propagação do vírus, aliada à incerteza sobre o seu comportamento e respostas eficazes, levou a um aumento da ansiedade e à necessidade de estratégias adaptativas. Outro exemplo tem a ver com a ameaça constante de ataques cibernéticos e a necessidade de planos de continuidade de negócio. Não-linear: Os efeitos das alterações climáticas são frequentemente não lineares. Alterações nas emissões de gases com efeito de estufa podem levar a impactos desproporcionalmente grandes na temperatura, nível do mar e clima. Os movimentos sociais e políticos também podem apresentar dinâmicas não lineares e desencadear mudanças rápidas e significativas na opinião pública e nas políticas. Incompreensível: Algoritmos complexos de inteligência artificial podem gerar decisões ou resultados difíceis de explicar ou compreender, o que levanta desafios éticos e de transparência. Outro exemplo é a interligação da economia global e a multiplicidade de fatores que a influenciam tornam difícil compreender e prever plenamente tendências. Estes exemplos ajudam a demonstrar o porquê de estarmos num mundo em “mudança por defeito”, assim como a justificar a necessidade de flexibilidade, adaptabilidade e pensamento inovador para enfrentar estes mesmos desafios. Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG Hoje, 00:12 Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG

Preparar o futuro, agora e sempre

Francisco Velez Roxo, CEO do ISEG Executive Education Hoje, 00:06 Urge intensificar a compreensão que a construção de vantagens competitivas, a reforçar e ou adquirir, para os próximos anos, advirá muito da capacidade de planeamento e sobretudo investimento. Vivemos novos tempos democráticos, económicos e sociais. É assim natural que se viva alguma espera e até retração na tomada de decisão dos indivíduos e das organizações. Tendo como horizonte compreender como serão os próximos meses/anos, é fundamental intensificar a compreensão que a construção de vantagens competitivas, a reforçar e ou adquirir, para os próximos anos, advirá muito da capacidade de planeamento e sobretudo investimento. Em particular ao nível de competências atuais e futuras que, com muita concordância, se sabe que moldarão o futuro da sociedade, dos negócios, do bem-estar e esperança social. Os desenvolvimentos tecnológicos, as preocupações ambientais e respetiva regulação, assim como maior atenção a compliance ao nível de cibersegurança e corrupção estão a ter um grande impacto nos planos estratégicos das organizações e obrigam a mudanças de processos estruturais. E nada fáceis. A aposta em desenvolvimento de competências e reforço de talentos, numa perspetiva de “lifelong learning”, são críticas em projetos de investimento, é para assegurar que neste momento já estão a ser implementados esforços que terão impacto a médio prazo. O período que vivemos é, como aconteceu no passado, definidor do potencial futuro, não só pelas implicações políticas, económicas e sociais de eleições e guerras na Europa e no Mundo, mas também pela capacidade do tecido empresarial se preparar para liderar. Temos, a nossa história disso tem boas evidências, condições intrínsecas muito positivas a potenciar, mas necessitamos compreender que o maior investimento a ser feito é no conhecimento, saberes e sabedoria que são cada vez mais holísticos. É do saber e do fazer rápido que nasce a inovação disruptiva, a transformação positiva e necessária para sermos players reconhecidos no futuro dos negócios. E tudo sempre com forte impacto na saúde do país que queremos ser. Recordando o Professor Agostinho da Silva sempre atual num seu texto que foi publicado como “a sua última conversa” em 1996: “Alfabetizar hoje uma pessoa não é apenas mostrar-lhe como se escreve isto ou aquilo. Curiosamente, foi uma coisa que só descobri em mim há pouco tempo. Estava a ler um artigo sobre a Lua e o autor explicava porque é que há Lua Nova. Eu nunca tinha pensado naquilo. Eu era analfabeto em Lua Nova. Por isso, agora, não é preciso alfabetizar as pessoas. Agora era apenas preciso vir um homem e dizer assim: essa coisa do satélite português que foi para o ar, como é que trabalha? Então eu explico-lhe como é que é, e ele fica alfabetizado para o importante, que no fundo é perceber o mundo actual e o mundo em que vivemos. Escrever, só se escreve algum tempo depois de ter acontecido na história”. Francisco Velez Roxo, CEO do ISEG Executive Education Hoje, 00:06 Francisco Velez Roxo, CEO do ISEG Executive Education

Alba Renai: uma nova era de profissionais gerados por IA

Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG Hoje, 00:10 Apesar de todo o entusiasmo em torno da IA, há perguntas que permanecem sem resposta, entre elas, como se regulará a IA para as gerações futuras e para o mercado de trabalho. O seu nome é Alba Renai e é a nova apresentadora de uma parte do programa Sobreviventes da televisão espanhola. A peculiaridade reside em que Alba não existe. É uma influenciadora virtual gerada por inteligência artificial (IA). Ao vermos as imagens percebemos o quão realistas são. A IA utilizada permite reproduzir não apenas a animação realista da rapariga, mas também a voz, a fazer lembrar a polémica Sora de OpenAI, que converte instruções de texto em vídeos fotorrealistas. Para lá de toda a tecnologia há também um storytelling que humaniza a personagem criada. Alba Renai estreou-se no Instagram em outubro de 2023 com algumas fotos não muito realistas e, portanto, facilmente reconhecíveis, embora a qualidade das imagens geradas por IA tenha melhorado muito nos últimos tempos. Descreve-se a si própria como uma viajante, vive em Madrid e no seu perfil aparecem conteúdos que vão do desporto aos eventos sociais, da cidade ao mar, entre outros. A incorporação de Alba enquanto apresentadora de TV é algo pioneiro na colaboração inovadora entre o entretenimento tradicional e as novas formas de comunicação digital facilitadas pela IA. Este avanço é fascinante, mas é também assustador. Deixa-nos a pensar sobre várias questões, nomeadamente, como é que empresas dos mais diversos setores vão incorporar a IA no seu negócio de forma ética; qual o impacto da chegada de profissionais gerados por IA ao mercado de trabalho; como aproveitar o seu potencial, sendo fiel ao seu propósito enquanto organização e não ferindo suscetibilidades éticas. É claro que, independentemente de onde se encontre uma empresa, em termos de trajetória de incorporação desta tecnologia, a IA (e a IA generativa em particular) está a precipitar uma transformação em grande escala, num um ritmo alucinante, que dependerá de marcos regulatórios legais, ainda não definidos na sua totalidade. Na fase em que estamos imersos, o sucesso da sua implementação tem uma relação muito próxima com as pessoas e o fator humano. Isto é, a adoção e implementação com êxito da IA generativa será o resultado de aplicações com intervenção humana na tecnologia e a sua utilização nas empresas. Contudo, não devemos esquecer outro ponto de vista primordial, como o impacto cada vez mais influente da IA na sociedade. Apesar de todo o entusiasmo em torno do tema, há perguntas que permanecem sem resposta, entre elas, como se regulará a IA para as gerações futuras e para o mercado de trabalho. Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG Hoje, 00:10 Carolina Afonso, Professora Universitária ISEG

A arte de bem definir problemas

Carolina Afonso, Professora universitária ISEG Hoje, 00:08 Por mais que se avance e mimetize as redes neuronais e o pensamento humano, e por mais exponencial que seja o alcance da IA, o chip estará sempre na inteligência natural humana. Os avanços da Inteligência Artificial (IA) vieram alterar o paradigma vigente em muitas organizações. Até então era habitual ouvir-se a frase: “não me venha com problemas. Traga-me soluções”. Com o advento de modelos de IA como o ChatGPT, o paradigma inverteu. Agora, o desafio não está na solução, que essa passou a ser a especialidade da IA, mas sim na formulação do problema. Quanto melhor formulado for o problema, melhor será o comando (prompt). E, por sua vez, mais sofisticada será a solução. Um artigo publicado na “Harvard Business Review” indica que a formulação de problemas é uma habilidade amplamente negligenciada e subdesenvolvida nos dias que correm. Uma razão para isso é a ênfase desproporcional dada à solução de problemas em detrimento da formulação. Um estudo recente revela, a propósito, que 85% dos executivos de Alta Direção consideram que as suas organizações são más a diagnosticar problemas. Nem sempre assim foi. Na Grécia antiga, o filósofo Sócrates acreditava que ninguém tinha as respostas definitivas para as perguntas. Daí que Sócrates circulasse por Atenas, entre as pessoas, colocando questões. E, insatisfeito a cada resposta, formulava novas perguntas. Este método é muito semelhante à engenharia do prompt. Hoje em dia, um dos skills mais relevantes para tirar partido do potencial da IA reside, precisamente, na capacidade de formulação de problemas, isto é, de identificar, analisar e delinear problemas. Tal exige uma compreensão abrangente do domínio do problema e a capacidade de diagnosticar problemas do mundo real. Sem um problema bem formulado, até os prompts mais robustos falharão. No entanto, quando um problema é claramente definido, as nuances linguísticas de um prompt tornam-se tangenciais à solução. Este novo paradigma traz consigo inúmeros desafios. A meu ver, por mais que se avance e mimetize as redes neuronais e o pensamento humano, e por mais exponencial que seja o alcance dos outputs da IA, o chip estará sempre na inteligência natural humana. Assim como na nossa capacidade criativa e, agora, mais do que nunca, neste importante skill que é saber diagnosticar um problema, decompô-lo e analisá-lo em partes. Um ato científico e sem julgamento. Reformular e voltar a testar. É esta a arte de bem definir problemas. Termino com uma frase atribuída a Einstein que, como qualquer visionário, já preconizava: “O importante é não parar de questionar. A curiosidade tem a sua própria razão de existir”. Ora bem! Carolina Afonso, Professora universitária ISEG Hoje, 00:08 Carolina Afonso, Professora universitária ISEG

Todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades

António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas Hoje, 00:13 Os resultados eleitorais evidenciam, não uma simples mudança de ciclo político, mas a entrada numa nova dinâmica estrutural da vida política e institucional. Em ano de comemorações do quincentenário do nascimento de Camões, importa relembrar esta reflexão profunda do nosso grande poeta que se afirma inexoravelmente, por cima das referências subjetivas, mais ou menos ideológicas e preconceituosas, com que olhamos os acontecimentos que se passam à nossa volta. Novas qualidades tomadas pelo mundo é algo com que nos deparamos ao longo de toda a nossa existência. Umas vão ao encontro das nossas expectativas, outras contrariam-nas abertamente. Por vezes de forma inesperada quando não violentamente. Os resultados da última noite eleitoral constituem uma inequívoca confirmação desta verdade intemporal que muitos teimam em ignorar. Não foi uma simples mudança de ciclo político que aconteceu, mas a entrada numa nova dinâmica estrutural da vida política e institucional que pode significar, coincidindo com os 50 anos do 25 de Abril, a abertura de uma nova onda política de longo prazo, à semelhança do que ocorre na economia, com os ciclos longos de Kondratiev. Uma das frases mais marcantes de Keynes, feita no prefácio à primeira edição da “Teoria Geral”, livro de rotura com o pensamento teórico dominante, que se revelava em contradição com o mundo em mudança da altura, afirmava que o difícil não era aderir às novas ideias, mas escapar das antigas. Esta conclusão aplica-se inteiramente ao comportamento e atuação daqueles que se propuseram lidar com a gestão da coisa pública, num contexto de mudanças estruturais profundas e de novas qualidades que o mundo já tomou, mas que recusam reconhecer. Com poucas exceções, o debate eleitoral foi primário. Quer no plano económico interno, onde nenhuma proposta de relevância estrutural foi verdadeiramente discutida. Quer no plano europeu, onde as propostas de desenvolvimento da integração foram praticamente esquecidas. Quer, ainda, no plano da economia global, onde as ameaças de recessão e a crise geoeconómica e geopolítica em curso, foram generalizadamente ignoradas. Exemplo paradigmático da incapacidade de escapar às ideias antigas está na indisponibilidade manifestada pelos líderes das duas, ainda maiores, forças políticas para se encontrarem com as Ordens Profissionais, para debaterem as propostas que apresentavam ao País. Representantes de largas centenas de milhar de profissionais altamente qualificados, em particular de jovens e recém-licenciados, as Ordens dispõem de um potencial de inovação e de transformação económica e social que importa mobilizar. Mas que tem sido desperdiçado pelos poderes públicos, com consequências sociais e políticas que se têm manifestado de forma bem visível. E que não deixaram de se exprimir nos resultados eleitorais. Nos tempos conturbados que se anunciam esperamos que o bom senso prevaleça e que o diálogo entre os diferentes agentes, económicos, sociais e políticos ganhe um novo impulso e se sobreponha ao confronto e à divisão. Portugal não pode continuar a ser um país adiado, particularmente num contexto internacional em que se exige responsabilidade, convergência interna e sentido de missão. A coluna quinzenal Pensar a Economia é uma parceria JE | Ordem dos Economistas. António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas Hoje, 00:13 António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas