Estratégia ´data-driven´ e criação de valor
Carolina Afonso, Professora universitária ISEG
Hoje, 00:06
Urge uma cultura organizacional na qual todos valorizem e adotem a utilização dos dados para tomar decisões de negócios.
As empresas com uma forte orientação para dados têm três vezes maior probabilidade de tomar melhores decisões, de acordo com um estudo da PwC.
A data science ou a ciência dos dados está na agenda da gestão de topo da maioria das empresas e refere-se a processos, métodos científicos e técnicas com o intuito de extrair informação relevante para o negócio a partir de grandes volumes de dados. Para uma organização implica também ter capacidade de interpretação de dados e antever alternativas, bem como oportunidades de mercado.
Uma abordagem orientada por dados permite que as empresas analisem e organizem os seus dados com o objetivo de melhor compreender o mercado e o comportamento dos clientes e satisfazer as suas necessidades criando valor para a organização.
Vários estudos indicam que as empresas mais bem posicionadas na próxima década serão aquelas que se prepararem bem agora a este nível, investindo em pessoas qualificadas e recolhendo a tipologia de dados correta e investindo na sua capacidade analítica.
São múltiplas as vantagens de utilizar uma abordagem de tomada de decisão “orientada por dados”, como a celeridade e eficácia no processo de decisão, a possibilidade de cruzar diversas fontes de dados em tempo real e poder fazer-se análise preditiva com menor margem de erro.
O “Santo Graal” da análise de dados é mesmo podermos construir modelos preditivos, ou seja, prever e recolher grandes e diversos conjuntos de dados, para depois com recurso a inteligência artificial (IA) e machine learning (ML) identificar padrões e daí forecasts para a gestão.
Há muitos desafios na implementação deste tipo de estratégia: falta de profissionais qualificados para as funções de business analytics ou de data scientist; pouca qualidade dos dados disponíveis para análise; diferentes formatos de dados que colocam desafios em termos de unificação; fontes credíveis de dados, sobretudo dados de mercado; curva de aprendizagem demorada ao nível da interpretação dos dados. Adicionalmente, muitas das organizações que trabalham com modelos de IA/ML hoje não têm uma estratégia de dados.
Adicionalmente é necessário existir uma cultura organizacional na qual todos valorizem e adotem a utilização dos dados para tomar decisões de negócios. Implica a criação de um novo mindset e de uma nova orientação na forma como se cria valor e se gera uma nova vantagem competitiva.
Carolina Afonso, Professora universitária ISEG
Hoje, 00:06
Carolina Afonso, Professora universitária ISEG
A Inteligência Artificial já é bem real
Carolina Afonso, Professora universitária ISEG
Hoje, 00:10
Conciliar as vantagens competitivas da IA com as questões éticas e de regulação, indispensáveis para uma utilização mais consciente da mesma, é fundamental. “Não vale tudo”.
A inteligência artificial (IA) já deixou de ser um exercício de ficção científica – está aqui agora e veio para ficar. As tecnologias inovadoras estão a revolucionar os negócios como os conhecemos e estão mais acessíveis do que nunca. Contudo, para aproveitar verdadeiramente o potencial transformador da IA, é necessário saber como e quando usá-la.
Uma das recomendações é para que as empresas olhem para a IA através das lentes do potencial para o negócio, e não das tecnologias em si. Ou seja, questionarem-se sobre como poder usar a IA para potenciar e alavancar os negócios.
Em termos gerais, a IA pode desenvolver três necessidades empresariais importantes: automatizar processos, obter insights e conhecimento acionável através da análise de dados e melhorar a interação entre clientes e colaboradores.
Um estudo da Harvard Business Review, intitulado “Artificial Intelligence for the Real World” analisa os benefícios da IA para os negócios em três áreas.
Automação de processos: Este é o “use case” mais comum em que a IA é aplicada a atividades administrativas, de recursos humanos e financeiras de backoffice utilizando tecnologia robótica de automação de processos. O RPA (Robotic Process Automation) é mais avançado do que as ferramentas anteriores de automação de processos de negócio, porque estes “robôs” agem como um ser humano, inserindo e consumindo informações de vários sistemas de TI. Pode ser útil em todo o processo de validação de documentos oriundos de várias fontes na organização, por exemplo.
Aumento do conhecimento acionável: Através de IA é possível utilizar algoritmos para detetar padrões em grandes volumes de dados e interpretar o seu significado. Estas aplicações estão a ser usados para prever o que um determinado cliente provavelmente comprará (next best-action); identificar fraudes em tempo real; automatizar a segmentação personalizada de anúncios digitais; e modelos robustos de previsão de vendas e de supply chain mais eficientes.
Interação cognitiva: São projetos que envolvem colaboradores e tem sido utilizada em áreas de apoio ao cliente, marketing, ecommerce. Alguns exemplos são chatbots que fazem atendimento ao cliente e respondem a uma variedade de problemas, desde solicitações de senhas até perguntas de suporte técnico – tudo na linguagem natural do cliente; no eCommerce e marketing digital existe o uso de sistemas de recomendação de produtos e serviços que aumentam a personalização, o envolvimento e as vendas, normalmente incluindo linguagem ou imagens sofisticadas. Já existem programas que criam e enviam newsletters de forma completamente automatizada para os clientes com base nos últimos produtos que o cliente visitou na loja online. Tal aumenta a conversão, diminui custos e aumenta a margem do negócio.
Em suma, neste momento a IA está a somar cada vez mais casos de empresas que a utilizam nestes contextos de automação de processos, aumento do conhecimento da organização acionável e da interação cognitiva.
Ao nível sistémico, a IA traduz-se em vantagem competitiva, pois estes benefícios permitem colocar a empresa num patamar concorrencial superior e a sua incorporação ao serviço do negócio traz ganhos reais ao nível da produtividade e rentabilidade do negócio, sendo obviamente vital respeitar questões éticas e de regulação que começam a ganhar cada vez mais forma e que são indispensáveis para uma utilização mais consciente da IA. Pois a IA já é bem real, mas… “não vale tudo”.
Carolina Afonso, Professora universitária ISEG
Hoje, 00:10
Carolina Afonso, Professora universitária ISEG
Um fraco Rei faz fraca a forte gente
António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas
Hoje, 00:14
Urge estabelecer um Pacto Social para o Crescimento que contribua para inverter a tendência de mais longo prazo que se vem afirmando na economia portuguesa para a estagnação e para a especialização de baixo valor acrescentado.
O primeiro-ministro de Espanha anunciou recentemente, a intenção do seu governo de aumentar a capacidade do aeroporto de Madrid em 28%, para cerca de 90 milhões de passageiros/ano, até 2031, num investimento total que rondará os 2 400 milhões de euros e que já é considerado o maior investimento em infraestruturas da última década.
O objetivo assumido é transformar o aeroporto de Madrid – que gera de forma direta ou indireta, quase 10% do PIB da região de Madrid – num dos maiores aeroportos da União Europeia e do mundo e reforçar, simultaneamente, o hub com a América Latina e desenvolver o hub com a Ásia, potenciando a criação de milhares de novos empregos.
É inevitável a comparação com o que se passa com o projeto de construção do novo aeroporto em Portugal, com a diferença de que por cá, não obstante todos os estudos que já foram feitos e todos aqueles que continuam a ser anunciados, não se sabe, ainda, onde nem quando vai ser construído. A decisão foi transferida para o novo governo o que até se compreende, tendo em conta o histórico de procrastinação. Com um pouco de sorte, o novo aeroporto de Lisboa ainda se poderá candidatar a constituir um hub para as Berlengas.
A comparação poderia ser estendida ao sector ferroviário, onde, apesar de todos os projetos anunciados, continuamos a alargar o fosso que nos separa dos nossos vizinhos e da restante Europa. Mas não é o momento de o fazer.
Partimos desta comparação com os nossos vizinhos espanhóis para chamar a atenção para a necessidade de ultrapassar a visão de curto prazo que tem dominado a decisão do País nas duas ou três últimas décadas e de reintroduzir a visão estratégica, seguindo aliás as tendências que estão a ocorrer no plano europeu no quadro das propostas de reindustrialização, de transição digital e da sustentabilidade energética e ambiental.
E, associada a esta visão estratégica, igualmente para a necessidade de se estabelecer um Pacto Social para o Crescimento que mobilize os agentes económicos e sociais, os responsáveis políticos e partidários e as instituições da sociedade civil, de que quero destacar as Ordens Profissionais e, em particular, a Ordem dos Economistas. Um Pacto que contribua para inverter a tendência de mais longo prazo que se vem afirmando na economia portuguesa para a estagnação e para a especialização de baixo valor acrescentado, responsável, em particular, pela saída de jovens quadros qualificados a que se tem assistido nos últimos anos.
E, por último, chamar a atenção para a necessidade de, nesta reintrodução da visão estratégica, repor o processo de constituição de classes médias – designadamente através da dinâmica de valorização salarial -, que se desenvolveu no período pós-segunda guerra mundial e que foi a base do mais longo período de crescimento económico na Europa e da afirmação da democracia, e que entrou em regressão na última década do século passado.
O título deste texto é uma homenagem ao nosso grande poeta, Luís de Camões, cujos quinhentos anos do nascimento se comemoram este ano. Cada um é livre de fazer a interpretação que entender.
A coluna “Pensar a Economia” tem periodicidade quinzenal e resulta de uma parceria editorial entre o JE e a Ordem dos Economistas.
António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas
Hoje, 00:14
António Mendonça, Professor Catedrático do ISEG -ULisboa, Bastonário da Ordem dos Economistas
JE estreia nova grelha de colunistas e podcasts
Opinião: Agostinho Miranda, António Mendonça, António Saraiva, Carla Castro, Cecília Meireles, Flávio Inocêncio, Luís Osório, Luís Todo Bom e Sandro Mendonça são alguns dos novos colunistas do JE. E vem aí o podcast “A Arte do Possível”
O JE conta a partir de hoje com uma nova grelha de colunistas. Agostinho Pereira de Miranda, António Saraiva, Carla Castro, Cecília Meireles, Flávio Inocêncio, José Manuel Diogo, Luís Mira Amaral, Luís Osório, Luís Todo Bom, Marcus Vinicius de Freitas, Naiole Cohen e Sandro Mendonça são alguns dos novos colunistas do JE. Juntam-se personalidades como Alexandra Paio, Cátia Miriam Costa, Fernando Pacheco, Filipe Garcia, Pedro Braz Teixeira, Pedro Lino, Sérgio Dundão, Sofia Vale, Sofia Santos e Rui Calafate, que se mantêm. A nova grelha de opinião do JE conta ainda com colunas temáticas elaboradas por autores da Ordem dos Economistas (incluindo o bastonário António Mendonça), do Instituto Português de Corporate Governance (entre os quais o presidente João Moreira Rato), da Fundação Francisco Manuel dos Santos, do ISEG e da Universidade Católica Portuguesa, entre outras entidades.
Filipe Alves
Medir para gerir: decisões com base em dados
Carolina Afonso, Professora universitária ISEG
Hoje, 00:11
Com os dados certos podemos obter insights, identificar problemas e oportunidades e, por fim, tomar decisões que colocam a empresa na trajetória certa e maximizam o crescimento.
Um negócio online gera uma grande quantidade de dados. O desafio que a maioria das empresas enfrenta não é a ausência de dados, mas sim saber deles tirar partido. Para se tomar decisões data-driven é necessário reunir os dados certos, analisá-los para obter os insights certos e determinar as conclusões e decisões estratégicas certas, com base nos objetivos do negócio.
Uma loja online tem funcionalidades que permitem não só analisar os dados, como direcionar um produto específico de uma forma mais agressiva, e tal ocorre porque se consegue rastrear a origem dos clientes, hábitos de compra, interesse, localização e padrões de consumo.
Numa fase mais avançada, conseguimos também construir e parametrizar dashboards e saber quais os produtos mais rentáveis, margem libertada, os canais que geram mais receita ou aquisição de clientes, quais os clientes com maior life time value (LTV), incluir variáveis como custos de envio, devoluções, etc. Com recurso a Inteligência Artificial e Machine Learning a análise poderá ser preditiva, ou seja, conseguir-se prever com algum rigor a intenção de compra e vendas futuras.
Com os dados certos podemos obter insights, identificar problemas e oportunidades e, por fim, tomar decisões que colocam a empresa na trajetória certa e maximizam o crescimento.
O primeiro passo é dedicar algum tempo a formular as regras de negócio e os objetivos. Quer conquistar novos clientes? Quer melhorar a retenção de clientes? Depois de se saber o que se procura, e identificadas as fontes de dados e as métricas necessárias, é preciso integrar a informação.
Muitas vezes, estas fontes de dados são dispersas. Os dados estão muitas vezes fragmentados nas diversas plataformas – plataforma de eCommerce, email e automação de marketing, no analytics das ferramentas de anúncios, entre outros. Para que esta integração seja possível, é necessário existirem plataformas com conectividade entre si, sendo fundamental a relação entre o ERP e CRM, motores de toda a analítica.
Em suma, para que se possa tirar partido de decisões data-driven é necessário recolher dados, agrupá-los, classificá-los e integrá-los. Só assim os dados se poderão converter em insights acionáveis e as decisões data-driven serem smart, i.e., inteligentes e capazes de trazer valor para a empresa e clientes. Só podemos gerir o que podemos medir, já dizia Peter Drucker.
Carolina Afonso, Professora universitária ISEG
Hoje, 00:11
Carolina Afonso, Professora universitária ISEG
Inteligência Artificial para lá do ChatGPT
Carolina Afonso, Professora universitária ISEG
Hoje, 00:11
2024 é apontado como o ano da regulamentação da IA. As empresas terão de preparar-se para aderir a novas normas em matéria de privacidade dos dados dos consumidores, ética e cibersegurança.
2023 foi sem dúvida um ano monumental para a Inteligência Artificial (IA), contudo, a par do deslumbre com o potencial desta tecnologia, o medo e a especulação dominaram também o panorama.
Fazer previsões é sempre difícil, especialmente num setor que evolui tão rapidamente quanto a IA. Mas, com um novo ano a começar, vale a pena refletir sobre o progresso que esta fez, bem como o que poderá estar por vir para a tecnologia em 2024.
Um estudo da Gartner do primeiro trimestre de 2023 mostrou que 70% das organizações estão ainda em fase de investigar sobre a Generative AI (GenAI), e apenas 4% haviam implementado soluções GenAI. Mas quando as mesmas perguntas foram feitas no terceiro trimestre, 45% destas empresas estavam já a testar ou a experimentar, e outros 10% tinham entrado em produção com soluções GenAI. Estes factos atestam o rápido investimento que está a ser feito em IA e o ritmo de adoção e escala.
2024 é apontando como o ano “para lá do ChatGPT”, em que iremos assistir às empresas a utilizar modelos de IA em ambientes do mundo real, desde interfaces de conversação a sistemas autónomos. Estes modelos transformados em sistemas irão revolucionar setores como a saúde, educação, robótica e e-commerce, bem como a forma como interagimos com o mundo que nos rodeia.
A IA pode ser usada em vários contextos e a prova disso é que a Microsoft e a Google já oferecem uma panóplia de ferramentas que não se limitam a modelos como o ChatGPT e incluem ferramentas de geração de conteúdo, utilização de dados e melhoria da produtividade em vários contextos.
Por exemplo, o PowerPoint designer IA usa algoritmos para sugerir layouts de design sobre a informação apresentada. O Gmail Smart Compose, por sua vez, usa machine learning para prever o que quer escrever e faz sugestões para terminar frases e parágrafos. E se o Microsoft Copilot e o Bing Compose oferecem geração conteúdo de elevado nível de qualidade, o Google Bard AI e o Gemini ajudam a obter insights e a perceber grandes volumes de dados para suportar decisões estratégicas.
2024 é, também, apontado como o ano da regulamentação sobre IA. As empresas preparar-se-ão para aderir a novas normas em matéria de privacidade dos dados dos consumidores, ética e cibersegurança. E enquanto os regulamentos estão a ser definidos, organizações como a AI Alliance e o Frontier Model Forum podem ajudar as empresas a definir estratégias para autorregular as suas soluções de IA.
Em suma, e parafraseando Tim Cook, da Apple: “A inteligência artificial irá impactar todos os produtos e serviços” que venhamos a ter no futuro.
Carolina Afonso, Professora universitária ISEG
Hoje, 00:11
Carolina Afonso, Professora universitária ISEG
Sem bons projetos não adianta haver financiamento, avisa especialista
Finanças Sustentáveis : Maria Netto Schneider, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade, destaca em entrevista que o papel dos bancos de desenvolvimento têm evoluído nos últimos dez anos
Não adianta haver financiamento se não houver bons projetos para financiar sendo que a capacidade de fomentar carteiras bancárias por parte dos bancos de desenvolvimento é uma das áreas que mais tem crescido nos últimos dez anos. Esta foi uma das principais ideias deixadas por Maria Netto Schneider, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade, em entrevista ao podcast “Descomplicar as Finanças Sustentáveis”. Neste segundo episódio da segunda temporada explorámos o papel dos Bancos de Desenvolvimento na transição para as Finanças Sustentáveis. Este podcast é o resultado da parceria entre o Jornal Económico, o Centro de Finanças Sustentáveis do ISEG e a Embaixada do Reino Unido em Lisboa. Este conteúdo tem como objetivo tornar o tema mais acessível e destacar o papel do setor financeiro no combate as alterações climáticas. Além da capacidade de criação destas carteiras bancárias, Maria Netto Schneider assinala mais duas vantagens associadas ao papel dos bancos de desenvolvimento nesta transição e que, no entender desta especialista, têm evoluído nos últimos anos: “É possível perceber que há a criação do ambiente de negócios (para efeitos de regulação e boas práticas) e o trabalho com os reguladores do sector financeiro para interiorizar o tema da sustentabilidade é fundamental para dar essa sinalização. Com os produtos financeiros, estes bancos podem alavancar investimentos e reduzir a pressão fiscal pública porque podem oferecer garantias de que há um custo fiscal”, realçou. Da mesma forma, esta especialista encara como fundamental o papel dos bancos de desenvolvimento tendo em conta a inovação e a capacidade de medir o impacto de um investimento sustentável, além da possibilidade de “desbloquear investimentos” numa “relação única” entre o público e o privado. No entanto, esta especialista nota alguns problemas que se colocam muitas vezes nos investimentos sustentáveis e que passam pelo facto de se tratar de novas tecnologias ou financiamentos com retornos de muito longo prazo, assim como riscos associados a modelos de negócio mal estruturados. “Os investidores e financiadores até podem interessar-se em apoiar esses negócios mas deparam-se com um risco relacionado com o investimento ou simplesmente não há apetite para avançar para um financiamento de muito longo prazo”, detalhou. No entender desta responsável, “os bancos de desenvolvimento nacionais podem ajudar a cobrir alguns desses riscos e combinar instrumentos que possam permitir ao sector privado a assumir o risco e a perceber o retorno”.
José Carlos Lourinho
IA e realidade aumentada, os aliados do eCommerce
Carolina Afonso, Professora universitária ISEG
Hoje, 00:10
A IA pode ser útil ao ajudar a marca a obter uma compreensão mais clara dos desafios que precisa resolver, contribuindo para desenvolver estratégias eficazes e orientadas para melhorar a experiência do utilizador.
Com o “boom” do eCommerce, há tecnologias que estão também em alta, dado o seu potencial para transformar as compras online em experiências sensoriais, aumentar a personalização e aproximando a experiência digital de uma ida à loja.
Duas destas tecnologias são a Inteligência Artificial (IA) e a Realidade Aumentada.
Com a evolução do eCommerce tornaram-se evidentes alguns obstáculos à compra que são a dificuldade que o cliente tem em encontrar os produtos que procura, a visualização dos artigos, a experimentação e a componente sensorial. Estas barreiras fazem com que aumente a taxa de abandono do carrinho, diminuição da taxa de conversão, aumento das devoluções assim como os custos de operação que a logística inversa implica.
São diversas as vantagens da utilização destas duas tecnologias no eCommerce, contudo gostaria de destacar as seguintes:
Product Discovery: encontrar os produtos certos
A descoberta de produtos por parte do cliente quando visita uma loja online deve constituir a base de toda a sua experiência online.
Hoje em dia, a sugestão de produtos ao cliente utiliza uma poderosa combinação de análise de dados e ferramentas digitais para moldar a jornada do cliente e influenciar a sua decisão de compra.
Com a evolução da IA e do machine learning é possível analisar o comportamento do consumidor em tempo real, visualizar as principais oportunidades de otimização e criar experiências de compra personalizadas tendo por base todas essas informações automatizadas.
A IA está a ter um papel relevante ao nível do merchandising, com impacto direto no aumento da receita por visitante (RPV), valor médio da encomenda (AOV) e retorno do investimento (ROI).
Por exemplo, uma elevada taxa de rejeição pode indicar que os clientes não estão a encontrar o que procuram, sugerindo problemas com o motor de pesquisa da loja online. Da mesma forma, uma taxa de conversão baixa pode sugerir problemas com recomendações de produtos ou com a exibição de uma página de categoria, o que pode impedir os clientes de fazer compras.
Mais uma vez, a IA pode ser útil ao ajudar a marca a obter uma compreensão mais clara dos desafios que precisa resolver, contribuindo para desenvolver estratégias eficazes e orientadas para melhorar a experiência do utilizador.
Experimentação – Try & Buy
A realidade aumentada permite eliminar a barreira existente entre os mundos físico e online, disponibilizando ao consumidor a possibilidade de experimentar virtualmente o produto pretendido, quer em si mesmo ou num espaço físico. Um dos exemplos são as várias aplicações de marcas de cosmética que facilitam ao cliente a experimentação virtual de produtos de maquilhagem e assim aumentar os níveis de confiança e satisfação com os produtos e com a marca. Uma vez que é possível obter uma imagem muito próxima daquilo que será o resultado final desejado, mesmo antes de adquirir o produto, permitirá ainda mitigar riscos inerentes à compra online.
Experiência de compra personalizada
De acordo com um estudo da CommerceNext, 78% dos consumidores escolheram, recomendaram ou pagaram mais por uma marca que proporcionasse uma experiência de compra personalizada. Por seu turno 61% dos profissionais de eCommerce acreditam que a personalização no site é a chave para impulsionar o crescimento da receita, seja através do motor de pesquisa no site como através da navegação orientada.
Neste âmbito a recomendação de produtos através de IA assume um papel relevante. Por exemplo, um cliente que procura um sofá, na sugestão de recomendações poderão aparecer produtos complementares como almofadas ou tapetes, incentivando ao cross-sell entre categorias e o aumento do AOV.
Outra das funcionalidades que aumenta a personalização é a existência de um assistente de compra. Os consumidores pretendem interagir com os produtos antes de comprar e pretendem uma experiência que mimetize a experiência in-store.
A realidade aumentada permite criar experiências que contribuem para um aumento do envolvimento e, consequentemente, para a fidelização dos consumidores com as marcas. Sendo a realidade aumentada uma tecnologia que permite interagir, envolver e criar conexões emocionais como por exemplo através da integração de chatbots que auxiliam na compra e que funcionam como virtual salesperson. Um dos exemplos é o Chatbot da Rayban que integra também realidade aumentada.
Concluindo, entramos na era do eCommerce em que o cliente consegue obter uma simulação cada vez real da experiência em loja. Não sendo ainda possível tocar nos produtos, podemos de alguma forma aproximarmo-nos do “sentir” o produto através destas tecnologias e assim aumentar taxas de conversão e fidelização do cliente.
Carolina Afonso, Professora universitária ISEG
Hoje, 00:10
Carolina Afonso, Professora universitária ISEG
´Unretirement´, a nova tendência no mundo do trabalho
Joana Santos Silva, Professora do ISEG Executive Education e Diretora de Inovação
Hoje, 00:08
Trabalhadores seniores podem ser fonte de mentoria e de coaching a colaboradores mais jovens. Existem várias evidências que demonstram que a diversidade nas equipas resulta em maior produtividade e satisfação.
“O trabalho dignifica o homem.” – Max Weber
Apesar de muitas vezes sonhar com a reforma, confesso que também me questiono como iriei ocupar o meu tempo quando deixar a minha atividade profissional.
O unretirement consiste em voltar ao trabalho, em formato integral ou parcial, por escolha ou por necessidade, depois da idade da reforma. É uma tendência crescente e que tem por detrás várias motivações. Desde necessidade financeira (65%), a realização pessoal (36%), a natureza do desafio (18%), ter acesso a benefícios (17%), a procura de reconhecimento (17%), a socialização (15%), a segurança (14%) ou a aprendizagem. Em suma, de forma geral, as grandes motivações são de natureza financeira ou emocional.
Os benefícios emocionais estão geralmente associados ao facto da nossa atividade profissional constituir uma fonte de convívio social significativa. Com o envelhecimento, os nossos círculos sociais tendem a diminuir e, hoje, é expectável viver 20 ou 30 anos depois da idade da reforma. Assim, para muitos, a expectativa de ficar sem um propósito, sem sentido de realização e fontes de autoestima, e, acima de tudo, sem um pretexto de convívio diário é motivo para considerem estender a idade de atividade profissional como forma de mitigar estas dimensões.
Em Portugal, com a crescente pressão de escassez de trabalhadores devido à nossa demografia envelhecida, soluções flexíveis de reforma poderiam resultar em alternativas inteligentes a uma solução de reforma binária – tudo ou nada. O mundo do emprego tem vindo a sofrer alterações profundas desde a pandemia, e esta será mais uma dimensão a considerar.
As empresas precisam de fornecer opções capazes de satisfazer as necessidades destes indivíduos se quiserem capitalizar sobre este novo pool de talento. Por outro lado, precisamos de ultrapassar o preconceito ou discriminação de idade (em inglês, agesim) que está enraizada na nossa sociedade. Em Portugal, ainda é frequente ouvir empresas a classificar potenciais candidatos como “velhos”. Por vezes, esses “velhos” têm 40 ou 50 anos de idade…
Para um país tão envelhecido, esta prática discriminatória afasta muitos indivíduos de qualidade e com competências várias. Com uma demografia e escassez de trabalhadores, poderíamos aprender com o Japão em que 64% dos reformados retorna ao mercado de trabalho.
As empresas que contratam trabalhadores mais maduros têm vantagens tangíveis e mensuráveis. Os trabalhadores experientes apresentam competências e conhecimento institucional que faltam aos mais jovens. Trabalhadores seniores podem ser fonte de mentoria e de coaching a colaboradores mais jovens. Aliás, existem várias evidências que demonstram que a diversidade nas equipas resulta em maior produtividade e satisfação.
Os trabalhadores altamente qualificados (41%) e os trabalhadores menos qualificados (39%) são aqueles que têm maior probabilidade de regressarem ao mundo do trabalho após a reforma. Um possível argumento para este facto é que enquanto os trabalhadores menos qualificados podem regressar por motivos financeiros, os mais qualificados regressam por motivos de realização pessoal.
O unretirement é um tema de alguma complexidade, mas tem muito potencial para criar valor para empresas, indivíduos e para a sociedade. Requer alguma adaptação por parte das organizações e uma mudança de mindset que leve a criar soluções mais inclusivas para pessoas com mais idade, mas pode constituir uma ferramenta nova no arsenal de captação e de gestão de talento diferenciado que será sempre um tema de pertinência empresarial.
Joana Santos Silva, Professora do ISEG Executive Education e Diretora de Inovação
Hoje, 00:08
Joana Santos Silva, Professora do ISEG Executive Education e Diretora de Inovação
Uma vez mais, os jovens
Enquanto não se encontrarem soluções para a questão da habitação e dos baixos salários, dificilmente podemos ter jovens com elevada formação a contribuírem para o PIB português.
Recentemente, o Governo anunciou, para o orçamento de 2024, um conjunto de benefícios especificamente direcionados aos jovens recém-licenciados, ou que terminam os seus mestrados.
As medidas que o Governo pretende implementar são, para já, três: a devolução das propinas para aqueles que optarem por iniciar a sua atividade profissional em Portugal, no valor anual de, aproximadamente, 700 euros; a gratuitidade dos transportes públicos, aos estudantes, até aos 23 anos, em todo o país (esta medida já era aplicada em alguns municípios, nomeadamente em Lisboa); e o aprofundamento do já existente programa do IRS Jovem, com a implementação de uma isenção de 100% de IRS no primeiro ano de atividade, 75% no segundo ano, 50% no terceiro ano e 25% no quarto ano, findo qual o IRS aplicado aos jovens será o aplicado à generalidade dos cidadãos portugueses.
Ninguém nega o carater positivo das medidas, nem o facto de não serem igualmente relevantes, ideia que corroboro. Em particular, as medidas ao nível do IRS, parecem ser as mais capazes de provocar algum efeito na decisão entre sair ou não sair de Portugal dos jovens portugueses, na procura de melhores condições de vida. Já em relação à gratuitidade dos passes até aos 23 anos e das propinas há dúvidas sobre a sua eficácia, uma vez que o valor que elas representam é baixo, sendo, por isso, mais difícil observar como podem influenciar a decisão profissional dos jovens. É certo que devemos ver o pacote completo, mas a análise da sua suficiência está irremediavelmente em cima da mesa.
A grande dúvida, e onde as divergências de opinião são maiores, é, precisamente, em saber se as medidas são suficientes para melhorar a vida dos nossos jovens e para os reterem em Portugal, evitando que a excelente formação dada pelas universidades portuguesas seja aproveitada pelos países de maior rendimento, fazendo aumentar o seu PIB, em detrimento do PIB português.
Na análise deste pacote de benefícios, devemos ter consciência de que os jovens que emigram para o exterior vão auferir remunerações que chegam ao dobro ou ao triplo do que se ganha no nosso país e, estas medidas, tal como foram divulgadas aos cidadãos, dificilmente concorrem com a alternativa oferecida pelo exterior.
Acresce que, lá fora, os alugueres de apartamentos não são mais elevados e as despesas com a eletricidade, gás e água, bem como com a alimentação, praticamente não se diferenciam das existentes em Portugal. Por outro lado, os destinatários destes benefícios são os jovens até aos 26/27 anos, o que deixa de fora os jovens de idades superiores e que sentem o mesmo tipo de restrições, não se descortinando soluções para estes.
O problema é mais estrutural, enquanto não se encontrarem soluções para a questão da habitação e dos baixos salários, dificilmente podemos ter jovens com elevada formação a contribuírem para o PIB português. Mas, esperemos que o vento corra de feição.
Maria Rosa Borges, Professora Catedrática do ISEG